A lição de uma raposa chamada Leão: nem sempre a alma do negócio é a propaganda

teixeira foto nova

José Carlos Teixeira*

“Ao longo de seu curso, a água

molda-se ao terreno onde corre.”

(Sun Tzu, A Arte da Guerra)

 

Foi na campanha eleitoral de 1992. De passagem por Feira de Santana, o prefeito de Lauro de Freitas, João Leão, resolveu fazer uma visita a seu colega Colbert Martins. Eram ambos do PMDB, partido que teve intensa participação no combate ao regime militar (1964/1985) e na redemocratização do país.

Após os cumprimentos, Leão surpreendeu Colbert (o pai do atual prefeito da cidade) com uma pergunta inusitada:

– Conheci seu candidato, me pareceu um bom rapaz. Mas por que você não quer que ele ganhe a eleição? – indagou, referindo-se a Luciano Ribeiro, vice-prefeito e candidato à sucessão de Colbert.

– É claro que quero que ele ganhe. Estou totalmente integrado à campanha, trabalhando intensamente. De onde você tirou essa ideia? – reagiu Colbert.

– Não parece. Desde que entrei nessa prefeitura não vi um só funcionário com a praguinha de seu candidato no peito – explicou Leão.

– Ora, Leão, isso não significa falta de empenho de minha parte. É uso da máquina e a legislação proíbe.

– Pois, lá em Lauro todos os funcionários da prefeitura têm que usar a praguinha de meu candidato. Têm que fazer propaganda. Proibido é perder a eleição – rebateu o visitante.

Trinta anos depois, confrontado com a informação de que prefeitos filiados ao PP, o partido que comanda na Bahia, estiveram presentes em atos promovidos pelo governador Rui Costa e até declararam apoio ao candidato do governo, João Leão não se abalou.

Explicou que desde que rompera com o governo, no mês passado, e aderira à oposição – assumindo, inclusive, o posto de candidato a senador na chapa majoritária encabeçada por ACM Neto – mandara um recado aos prefeitos que seguem sua orientação política: fiquem na moita.

É que, como ocorre às vésperas de todas as eleições, os governantes fazem uma farta distribuição de verbas, mediante convênios para a realização de pequenas obras nos municípios. A orientação de Leão para os prefeitos do PP que desejam acompanhá-lo e embarcar logo na caravela da oposição é que tenham calma e não briguem com o governo, para não serem perseguidos nem perderem as verbas estaduais. O momento do desembarque da nau governista é mais adiante, perto da eleição, aconselha.

Nos dois momentos, separados por 30 anos, o que vemos é João Leão sendo João Leão. Ou seja, exercitando a imensa capacidade de adaptação de uma velha raposa que se molda às circunstâncias políticas do momento, como a água faz pelo terreno onde corre.

Nessa cartilha, quase bíblica, há o momento de falar e o de calar. O contexto e o momento é que determinam se a alma do negócio é a propaganda ou o segredo.

A lição que se tira – inclusive porque esse raciocínio não é privativo de João Leão, mas comum a todos os profissionais da política  – é que manifestações de apoios vindas de lideranças menores interior afora, como vêm ocorrendo nos últimos dias, pouca ou quase nenhuma serventia têm agora, a seis meses da eleição, exceto para gerar notinhas na mídia e selfies em companhia dos líderes de um lado e de outro nas redes sociais.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.

 

 

 

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