José Carlos Teixeira*
Foi há 28 anos, completados hoje. Em 5 de abril de 1994, o então governador Antonio Carlos Magalhães foi a Itabuna, no Sul da Bahia, inaugurar uma escola. No discurso, apontou para o Estádio Luiz Viana Filho, do outro lado da rua, e atacou a administração municipal, responsabilizando a prefeitura pelo péssimo estado de conservação do equipamento, impossibilitado de receber jogos do campeonato baiano.
O prefeito, o petista Geraldo Simões, ouviu calado, mas não gostou, é claro. Sobretudo quando ACM encostou nele, após a fala, e disse baixinho, à guisa de desculpas, mas que soou como provocação:
– Não repare, mas eu tenho que agradar meu pessoal.
Menos de uma hora depois, voltaram a se encontrar, na inauguração do hospital da Unimed local. Como previsto, foi a vez do prefeito discursar. Veio o troco: Geraldo elogiou a iniciativa e disse que o hospital iria suprir uma grande lacuna, pois as unidades de saúde do Governo do Estado estavam sucateadas e prestando um péssimo atendimento à população. Ao final, encostou em ACM e disse baixinho:
– Ligue não, é que também tenho de agradar meu pessoal.
Antonio Carlos colocou a mão sobre o ombro de Geraldo Simões, puxou-o para seu lado e ficaram conversando baixinho. Pouco se ouviu do que diziam, mas as risadas de ambos, alguns tons mais acima, causaram espanto e estranheza entre partidários de um e de outro ali presentes.
O episódio me veio à memória ao ver as fotografias, reproduzidas em diversos meios de comunicação e divulgadas intensamente pelas redes sociais na internet, mostrando o encontro dos candidatos a governador dos dois principais grupos políticos baianos em um evento social na sexta-feira passada.
Nas fotos, o oposicionista ACM Neto e o governista Jerônimo Rodrigues estão sorrindo, bem juntinhos, posando para as câmaras. Em uma delas, Jerônimo chega mais perto e faz um L – de Lula, é claro – com a mão direita colocada bem à frente do corpo de Neto.
Nos comentários sobre as fotos que pipocaram nas redes sociais, viu-se de tudo. Gente reclamando; gente elogiando; alguns apoiando; outros xingando ora um, ora outro; criticando; aplaudindo… Houve gente dizendo que não estava entendendo nada, gente dizendo que estava “entendendo” tudo. Enfim, todos contribuindo para alimentar uma certa polêmica – saudável, diga-se, muito embora alguns poucos recorressem a termos pouco civilizados.
Os dois retratados nas fotos, porém, foram claros: são homens públicos, de bons modos, que se encontraram em um evento social e se cumprimentaram como manda a boa educação. São adversários políticos e não inimigos. Têm pensamentos divergentes em muitos pontos, criticam um ao outro, às vezes de forma dura, mas isso não os transforma em dois grosseirões a trocarem xingamentos, em dois selvagens a trocarem bordunadas.
Na contramão dessa demonstração de civilidade, vimos, na quinta e sexta-feira, o deplorável confronto entre professores e guardas municipais que se seguiu à ocupação da Prefeitura de Feira de Santana por um grupo de profissionais da educação. Um confronto estabelecido por obra e graça da igualmente condenável interferência de políticos da turma do “quanto pior, melhor”. Gente que viu no movimento dos professores uma oportunidade de obter dividendos político-eleitorais e não mediu esforços para acirrar os ânimos e provocar o conflito – pouco ligando se alguém sairia dele ferido, como de fato ocorreu.
O lamentável episódio nos dá uma ideia de como poderá se desdobrar a campanha eleitoral caso haja uma radicalização capaz de gerar atos de violência, rompendo-se a civilidade que tanto Jerônimo Rodrigues como ACM Neto exibem naquelas fotografias. É que ambos sabem muito bem que só terão prejuízos com a radicalização e a consequente proliferação da violência durante a campanha eleitoral.
*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.
