Agora é com o eleitor: está bom e pode ficar melhor ou está ruim e pode piorar

foto texeira nova

José Carlos Teixeira*

“O que é que eu posso fazer por ti, oh minha Bahia

Achar que tudo é prazer, dizer que é só alegria

Ou proferir desacatos, que nem

Gregório de Matos em outros tempos fazia?”

 (Moraes Moreira)

 

A campanha eleitoral chega ao fim na Bahia sem que tenham respostas conclusivas as principais questões que afligem o baiano, não obstante terem sido motivo de discursos, debates, entrevistas e, sobretudo, das peças de propaganda dos candidatos, os quais, aparentemente, foram finalmente acordados para elas.

Já não era sem tempo, diria o povo, se lhe fosse perguntado. Afinal, é ele que padece dia e noite com as consequências de tais questões que seguem se arrastando, insanáveis: a insegurança, a violência, a má qualidade do ensino, a fila da regulação, as unidades de saúde lotadas, o desemprego, o custo de vida elevado, a fome, a injustiça, a desesperança…

Mas, se trataram desses temas durante a campanha, os candidatos não conseguiram chegar a um consenso mínimo sequer sobre o primeiro passo, que é o reconhecimento de que os problemas existem de fato, não se trata de mera invenção do adversário. São reais ou meras fake news, para usar o termo da moda.

Vamos pegar um desses temas, para ilustrar. A questão da violência, por exemplo. Durante toda a campanha eleitoral, foi tratada assim: para a oposição, a Bahia é um dos estados mais violentos do país, campeã nacional de homicídios; para a situação, trata-se de uma fake news, pois nunca na história desse estado um governo investiu tanto em segurança, adquirindo viaturas, comprando armas, aumentando o efetivo policial. Ou seja, um lado levantou o cobertor, expondo a chaga à luz, e o outro correu a tapar o sol, se bem que usando uma peneira.

Foi assim também com a saúde. Se a oposição dizia que havia gente morrendo na fila da regulação, a situação replicava que não existia fila alguma, pois foram construídos muitos hospitais. E a mesma coisa com o ensino. É de má qualidade, dizia a oposição, citando os índices do Ideb. Nunca foi tão bom, reagia a situação, mostrando quanto gastou na construção de escolas.

No campo da retórica, do jogo das palavras, na construção de uma linha argumentativa, os dois lados estão certos. É quase impossível ambos olharem para a mesma coisa do mesmo jeito. Sempre verão de forma distinta, de acordo com seus próprios interesses.

Voltemos a uma imagem que usamos em um artigo anterior, a do copo cheio de água até a metade. Um lado, o que está no poder, dirá sempre que o copo já está meio cheio e breve estará com água até a boca. O outro, o que quer tomar o lugar do primeiro, sempre dirá que o copo está meio vazio e se não houver mudança logo estará totalmente sem água.

A imagem explica como se define o campo dos discursos eleitorais. Mas o mundo real não se contém no universo da retórica. Nele, há seres humanos de verdade, que almejam mais, que sonham mais, que querem ir além – “a gente não quer só comida… a gente quer inteiro e não pela metade”, cantavam os Titãs.

Nesta última semana de campanha eleitoral, o mundo real tratou de dar um sacolejo no andamento da disputa e exibiu sua face mais cruel.

Logo na segunda-feira, mal acordamos e fomos sacudidos com a notícia de que um adolescente armado invadira uma escola no Oeste da Bahia, atirara contra estudantes e matara a golpes de facão uma jovem cadeirante, antes de ser baleado e detido.

Na quarta-feira, dois militares que trabalhavam como seguranças na campanha de um candidato da oposição a governador foram atacados em um hotel no Sul do Estado por uma guarnição da PM. Um deles foi morto e o outro gravemente ferido, em um episódio ainda não devidamente esclarecido, mas revelador do grau de violência e insegurança em que vivemos.

Esse, o mundo real, onde pessoas choram a morte prematura e absurda de pais, filhos, parentes, amigos, colegas. Mais que chorar, eles cobram políticas que ponham fim à crescente violência e ao avanço da criminalidade, sob a complacência do governo, que sequer reconhece a existência do problema.

Neste domingo, o eleitor atenderá ao chamado das urnas para escolher, de acordo com sua consciência, qual o melhor caminho a seguir. Tal escolha, é claro, vai muito além da retórica dos discursos e das imagens de copos cheios ou vazios. É um chamamento do mundo real, apontando para o futuro.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador.

 

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