Bahia vai mostrar ao grupo de transição de governo de Lula seus bons resultados na educação

foto texeira nova

José Carlos Teixeira*

“Um rosário de ouro,

Uma bolota assim

Quem não tem balangandãs
Não vai no Bonfim”

(O que é que a baiana tem?,

samba de Dorival Caymmi)

 

O professor Danilo de Melo Souza, que substituiu o agora governador eleito Jerônimo Rodrigues no comando da Secretaria da Educação da Bahia, recebeu convite para integrar o grupo técnico de educação da equipe de transição do presidente da República eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.

Entusiasmado, anunciou que vai apresentar à equipe comandada pelo ex-ministro da Educação Henrique Paim (no governo Dilma, entre 2014 e 2015) “as políticas exitosas implementadas pelo Governo da Bahia e que se tornaram referência nacional”, conforme apregoa release distribuído à imprensa.

Não, incrédula leitora, não é brincadeira, nem fake news. É vero. O secretário vai mostrar a seus pares da área de educação os bons resultados obtidos no setor pelo governo da Bahia e que, naturalmente, ele espera que sejam referência para o futuro governo de Lula.

É evidente que em nenhum momento se fará menção aos resultados da Bahia no Ideb, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, que a cada dois anos avalia a qualidade do ensino no Brasil, e em cujo ranking a Bahia tem aparecido sempre nos últimos lugares.

Mas, se não tem nada de bom a mostrar em termos de qualidade do ensino, que balangandãs, correntes de ouro, saias rendadas, sandálias enfeitadas e torços de seda comporão a fantasia que o governo baiano vai exibir ao grupo de transição?

Na faça juízo apressado, meu caro leitor. Não faça como a oposição, que não para de cobrar qualidade de ensino, como se isso fosse a coisa mais importante do mundo. Há o que mostrar, sim. O secretário aponta três exemplos de “políticas de vanguarda, bastante avançadas com relação ao restante do Brasil”, executadas pela secretaria que ele comanda: o Bolsa Presença; a alimentação escolar; e a Educação em Tempo Integral.

O primeiro deles, a rigor, não é um programa educacional. Criado em março do ano passado, é um programa de assistência estudantil. O governo paga uma bolsa às famílias dos estudantes da rede estadual de ensino em condições de vulnerabilidade socioeconômica e que estão cadastradas no CadÚnico. Cada família recebe R$ 150 por parcela, acrescidos de R$ 50 a partir do segundo estudante matriculado, mas o pagamento é condicionado à permanência do aluno na escola.

No segundo caso, a merenda escolar foi reforçada, com a inclusão de uma segunda refeição em cada turno, o que, de fato, é muito bom. Além disso, durante a pandemia, quando as escolas entraram em recesso, os estudantes receberam um vale-alimentação no valor de R$ 55 mensais para substituir a merenda escolar.

Os dois programas são de fato, importantes, pois reforçam a frequência escolar e reduzem a evasão. Se, antes, muitos alunos iam à escola apenas pela merenda escolar, agora suas famílias também recebem uma grana extra por isso. Mas a danada da oposição não vê isso e insiste em cobrar qualidade de ensino…

Ah, sim, tem a Educação em Tempo Integral – aliás, uma das marcas da passagem do professor Danilo pela Secretaria da Educação do Tocantins. Só que, na Bahia, a implantação das escolas de tempo integral ainda é um arremedo, quando não uma fantasia.

Veja-se o caso do Colégio Estadual de Aiquara, a cidade onde nasceu o governador eleito e ex-secretário de Educação Jerônimo Rodrigues e que responde pela quinta pior posição da Bahia no Ideb. Única escola de ensino médio da cidade, foi transformada em colégio de tempo integral pelo governo. Só que as atividades ocorrem no contraturno apenas duas vezes na semana, às terças e quintas. É que o número de salas de aula e a merenda escolar são insuficientes para a escola funcionar em dois turnos durante toda a semana.

Um balangandã aqui, uma pulseira de ouro acolá, um torço de seda mais além, mas nada capaz de ocultar a realidade.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.

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