José Carlos Teixeira*
“Eu sou de ninguém
Eu sou de todo mundo
E todo mundo é meu também”
(Já Sei Namorar, de Marisa, Brown e Antunes)
Está em todos os canais, os do mundo real e também os do universo virtual: Jerônimo é do time de Lula. João Roma é do time de Bolsonaro.
E ACM Neto, hem? Em que time ele joga?
O próprio Neto diz que não tem time no disputado Campeonato da Presidência da República. Mas ressalva: está pronto para montar um combinado com qualquer um que esteja sentado na cadeira principal do Palácio do Planalto a partir de janeiro.
Não é verdade, bradam, em todos os canais possíveis – e também naqueles impossíveis, por onde trafegam as fake news, apesar do olhar atento da Justiça Eleitoral –, os adversários do candidato da União Brasil na corrida para saber quem vai ocupar o Palácio de Ondina.
– E qual é a de mesmo? – quer saber o eleitor.
O petista Jerônimo, por exemplo, garante que não há dúvida: ACM Neto é bolsonarista e, portanto, contra Lula. E mostra o pau, após bater na cobra: tanto o é que Neto e seus apoiadores ocupam todos os cargos do governo federal na Bahia e integram a base de sustentação do presidente Jair Bolsonaro no Congresso Nacional.
O bolsonarista João Roma, por sua vez, contesta Jerônimo e alerta o eleitorado: não se deixe enganar, Neto é na verdade um lulista disfarçado. O verdadeiro candidato de Bolsonaro sou eu, diz ele, exibindo um vídeo em que aparece na carona do presidente, durante recentes motociatas realizadas em Salvador e Feira de Santana.
O governista Jerônimo se agarra ao time de Lula como ostra ao rochedo e, claro, quer afastar ACM Neto dessa parada, atirando-o no colo de Jair Bolsonaro. Faz sentido: a ideia do time de Lula de se mostrou eficaz nas quatro últimas eleições, assegurando ao PT baiano 16 anos de poder estadual– além do mais, Lula vem liderando com folga a disputa presidencial na Bahia (registrou 62% das intenções de voto contra 19% do atual presidente na última pesquisa Quaest/Genial).
Terceiro lugar em todas as pesquisas eleitorais, João Roma – um ex-assessor de ACM Neto que se deixou seduzir pelo canto da sereia bolsonarista e se tornou ministro da Cidadania, o que gerou um cisma entre os dois – acredita na reeleição do presidente. Por conta disso, sonha abocanhar uma fatia expressiva dos votos de Neto, assegurando para si, como legítimo representante de Bolsonaro na Bahia, uma vaga num eventual segundo turno contra Jerônimo. Como ele acha que vai empurrar Neto para a terceira posição? Simples: bradando aos quatro ventos que Neto é um lulista disfarçado.
Por enquanto, a tática de ambos não tem funcionado a contento. Tanto que ACM Neto segue na liderança absoluta em todas as pesquisas eleitorais realizadas – exceto em uma, mas, para manter a elegância, vamos considerar essa como a exceção que confirma a regra. Um levantamento da Paraná Pesquisas divulgado no início desta semana mostra ele com 53,5%, bem distante do segundo colocado, Jerônimo Rodrigues, que chegou a 18,2%, e de João Roma, que ficou em terceiro, com 11,1% das intenções de voto.
Fontes da coordenação da campanha de ACM Neto dizem que ele não pretende mudar de posição. Como na letra de Garota Solitária, antigo samba-canção de Adelino Moreira e sucesso na voz da saudosa Ângela Maria no início dos anos 1960, seguirá com “o destino da Lua, que a todos encanta e não é de ninguém”.
*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.
