José Carlos Teixeira*
“Minha mudança é tão pequena
Que cabe no bolso de trás
Mas essa gente aí, hein, como é que faz?”
(Despejo na favela, de Adoniran Barbosa)
A imprensa flagrou um caminhão de mudanças entrando pelo portão do Palácio da Alvorada, a residência oficial do presidente da República, na tarde desta quinta-feira, 15. A imagem, mostrada pelas emissoras de televisão e publicada nos sites de notícias, revela mais que a prosaica transferência de bens de uma família de uma casa para outra, como ocorre todos os dias em diversos pontos do país.
Vale o simbolismo: um mês e meio após a eleição, cujo resultado ele ainda insiste em não aceitar, essa é a primeira manifestação de que Jair Bolsonaro, entocado no Alvorada desde então (saiu umas poucas vezes, para participar de solenidades militares), se prepara finalmente para deixar a residência oficial livre para receber seu novo inquilino.
Tudo indica, porém, que ele só deixará o palácio na última hora, de modo a criar constrangimento ao seu sucessor. Caso Bolsonaro deixe para desocupar o palácio no último dia de seu mandato, o novo presidente, após tomar posse e cumprir seu primeiro dia de trabalho, não terá uma casa para ir. Lula terá que recolher-se ao hotel onde se hospedou nos últimos dias para acompanhar a transição de governo e fazer reuniões.
É que, por questões de segurança, o novo presidente só poderá mudar-se para o Palácio da Alvorada após a realização de uma varredura completa no imóvel, para detectar eventuais escutas ambientais clandestinas, e a troca de todo o pessoal de apoio que ali trabalha.
É já uma tradição a cessão da Granja do Torto, outra residência oficial da Presidência da República, para que o presidente eleito se instale na capital, até a posse. Foi assim com Lula, em 2002; com Dilma, em 2010; e com Bolsonaro, em 2018. Nesta sucessão, porém, isso não ocorreu até agora.
A Granja do Torto está ocupada atualmente pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, o qual não deu sinais de que pretende deixar o imóvel por agora, mesmo tendo recebido um pedido nesse sentido, feito por Rui Costa, o futuro ministro da Casa Civil. Rui, aliás, já havia tratado o assunto com o atual chefe da Casa Civil e senador eleito, Ciro Nogueira, que ficou de tomar as providências necessárias.
Até agora, porém, nada avançou. Tudo se encaminha para termos o primeiro presidente sem-teto da história da República. Por pura birra. A gente merece.
*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador.