Candidatos disputam dados de pesquisa como se fosse a brincadeira infantil da galinha-gorda

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José Carlos Teixeira*

 

A brincadeira da galinha-gorda, os mais velhos devem lembrar, era mais ou menos assim. De frente para um grupo de crianças, alguém com as mãos cheias de prendas – na maioria das vezes, guloseimas doces, tipo balas ou pirulitos – puxava o diálogo tradicional, conhecido por todos:

– Galinha gorda?

– Gorda! – respondia a criançada em coro.

– Assada ou cozida?

– Cozida!

–  Pra cima ou pra baixo?

– Pra cima!

– Vamos a ela?

– Vamos!

Nesse ponto, as balas ou pirulitos eram jogados para cima e as crianças se lançavam para apanhá-las rapidamente, empurrando, puxando e agarrando umas às outras, na tentativa de pegar o maior número possível de prendas.

Pois bem. A pesquisa de intenção de votos do eleitorado baiano, realizada pela Quaest, uma empresa mineira de consultoria e pesquisa, por encomenda do Banco Genial, ao custo de R$ 116.400, teve seus resultados disputados como se fosse uma brincadeira da galinha-gorda.

Quando os dados foram jogados para cima, quero dizer, quando os dados foram divulgados, todos os interessados correram a pegá-los e rapidamente cuidaram de exibir as prendas que os colocavam melhor posicionados junto ao eleitorado.

Cada qual cuidando de divulgar apenas os resultados que os deixam bem na fita e tratando de esconder os ruins, seguindo a receita preconizada em 1994 pelo então ministro da Fazenda Rubens Ricúpero, no episódio que ficou conhecido como o “escândalo da parabólica” e lhe rendeu a perda do cargo. Numa conversa com o jornalista Carlos Monforte, enquanto se preparavam para entrar ao vivo no Jornal da Globo, Ricúpero afirmou: “Eu não tenho escrúpulos; o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde.” Só que a conversa vazou pelo canal privativo de satélite, acessível a todos que tinham uma antena parabólica. Um escândalo.

Mas, dizia eu, todos foram exibir as prendas que conseguiram. Alguns, é verdade, as pegaram antes mesmo delas serem divulgadas. A divulgação oficial da pesquisa foi na manhã de quarta-feira (23), mas na noite anterior alguns sites e blogs já divulgavam um resultado que favorecia o candidato do PT.

Segundo a pesquisa, o petista Jerônimo Rodrigues chegava a 37% das intenções de voto quando seu nome era associado ao do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Já ACM Neto, indicado nesta questão como candidato independente, vinha com 43%, apenas 6 pontos percentuais à frente de Jerônimo – praticamente um empate técnico, considerando que a margem de erro da pesquisa é de 2,9 pontos percentuais para cima ou para baixo.

Um feito e tanto, quase um milagre, considerando que Jerônimo teve seu nome lançado como candidato a governador oito dias antes da pesquisa começar a ser aplicada. Mas foi o suficiente para os governistas correram a fazer postagens nas redes sociais exibindo essa bela prenda e já cantando vitória.

Já os oposicionistas seguiram outro caminho: cuidaram de divulgar o resultado da pesquisa estimulada (quando os nomes dos candidatos são apresentados à pessoa pesquisada), o qual mostrava que se a eleição fosse hoje ACM Neto, do União Brasil, venceria a eleição no primeiro turno com 66% dos votos. João Roma, ainda filiado ao Republicanos, teve apenas 5% e Jerônimo Rodrigues, menos ainda: parcos 4%.

Na disputa para o Senado, todo mundo saiu bem na fita: em um dos cenários pesquisados, Otto Alencar (PSD) obteve 21%, seguido por Zé Ronaldo (13%), João Leão (12%), Márcio Marinho (7%), Raíssa Soares (6%), Marcelo Nilo (4%) e Tâmara Azevedo (3%).

Líder, Otto festejou sua prenda. Mas houve festa também no lado de Zé Ronaldo, João Leão, Márcio Marinho e Marcelo Nilo. É que os quatro são do mesmo grupo, somados alcançam 36% e terão apenas um candidato, já definido: Leão.

O dado mais importante dessa pesquisa, porém, foi ignorado pela mídia: pela primeira vez, ACM Neto registrou mais intenções de voto que Lula. Na questão estimulada, ele teve 66% das intenções de voto e o ex-presidente 62%.

Levando em consideração tais percentuais, a lógica mostra que interessa aos dois esfriar a campanha, afinal, eles não disputam o mesmo cargo. Ou alguém acredita que os dois partirão para um duro confronto, capaz de prejudicar um ou outro, ou ambos, a depender da temperatura da campanha?

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.

 

 

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