Começa o segundo turno: Jerônimo é favorito, mas ACM Neto acredita em virada.

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José Carlos Teixeira*

“Voceis pensam que nóis fumos embora
Nóis enganemos voceis
Fingimos que fumos e vortemos
Ói nóis aqui traveis”

(Ói Nós Aqui Traveis, samba de

Geraldo Blota e Joseval Peixoto)

 

 

Começou tudo novamente. Nem bem as ruas foram limpas do material gráfico espalhado pela boca-de-urna nas proximidades das seções eleitorais (só em Salvador foram recolhidas 132 toneladas de papel) e os carros-de-som já estão de volta a propagar os nomes dos dois candidatos que disputarão a segunda volta da eleição para governador da Bahia. No rádio e na televisão, a propaganda começa na sexta-feira e vai até o dia 28, antevéspera da eleição.

No dia 30, os baianos voltarão às urnas para decidir finalmente se mantém o PT no comando do Estado, posto que o partido ocupa desde 2006, ou se entrega o bastão para a oposição – e também se querem a reeleição do presidente Jair Bolsonaro ou se reconduzem ao Palácio do Planalto, para um terceiro mandato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No caso baiano, o segundo turno começa com uma inversão: líder em praticamente todas as pesquisas de intenção de voto desde a pré-campanha (um único instituto de pesquisa apontava o contrário), o candidato do União Brasil, ACM Neto, ficou em segundo lugar no referendo das urnas. O favoritismo agora é do petista Jerônimo Rodrigues, candidato da situação, que só não levou no primeiro turno por muito pouco (ele somou 49,45% dos votos contra 50,55% dos demais candidatos reunidos).

O segundo turno é sempre uma nova eleição, costuma-se dizer. O que não significa que a disputa vai começar do zero. Há que se considerar o acumulado nas batalhas do primeiro turno, para o mal ou para o bem. É óbvio que quem saiu na frente leva vantagem, mas há sempre a possibilidade de uma reviravolta. Eleitor é um bicho tinhoso, costumam dizer os políticos veteranos.

Desde que o segundo turno foi instituído no Brasil, com a Constituição de 1988, houve casos de viradas em disputas estaduais, com a vitória do candidato que saiu em segundo lugar na primeira volta. Um levantamento feito pelo site Poder360 mostra que das 108 eleições de governador que foram decididas em segundo turno, ocorreram reviravoltas em 31 delas.

O caso mais emblemático foi a disputa pelo governo de Minas Gerais em 1994. No primeiro turno, Hélio Costa (PP) teve 48,3% dos votos, com uma frente de 21,1 pontos percentuais sobre o segundo colocado, Eduardo Azeredo (PSDB), que obteve apenas 27,2%. No segundo turno, veio a virada: a votação obtida por Costa diminuiu para 41,3% e Azeredo venceu a eleição com 58,6% dos votos – uma frente de 17,3%.

Casos como esse alimentam a esperança de ACM Neto virar o jogo e bater Jerônimo no segundo turno. É difícil, mas não impossível, como a história registra. Para tanto, ele terá que conquistar todos os votos bolsonaristas concedidos a João Roma (PL) no primeiro turno e ainda atrair uma pequena parcela dos eleitores que votaram em Jerônimo.

E o principal, terá que superar a forte influência do segundo turno da eleição presidencial, entre Lula e Bolsonaro. A tática de Neto, no primeiro turno, foi distanciar-se da disputa pela presidência, sem dar palanque e sem explicitar apoio a nenhum dos candidatos. Com isso, manteve distância de Bolsonaro, que tem elevada taxa de rejeição no eleitorado da Bahia, e não hostilizou Lula, o candidato presidencial preferido dos eleitores baianos. Deu certo. Tanto que teve uma expressiva parcela de votos dos que também votaram no ex-presidente.

No segundo turno, tudo indica que ele deverá manter posição semelhante, apostando que terá os votos dos bolsonaristas sem precisar fazer aceno algum a Bolsonaro – gesto que lhe seria fatal, considerando a rejeição do presidente entre os baianos.

Com isso, buscará distanciar-se da disputa presidencial e apostar todas as fichas da propaganda no rádio e na televisão em peças de comparação entre sua trajetória de político e de gestor com a do adversário.

Mas, com uma disputa acirrada e o país dividido entre as duas candidaturas a presidente, essa neutralidade funcionará? Vamos ter que esperar o início da propaganda no rádio e na televisão, bem como as próximas pesquisas de intenção de voto para saber.

A propósito, está em curso uma campanha de demonização das pesquisas eleitorais sob a alegação de que os números por elas revelados não corresponderam aos resultados das urnas. Bobagem. Apontar erros dos institutos de pesquisa é uma forma de não reconhecer o que de fato ocorreu: uma mudança, na última hora, do estado de espírito de uma parcela do eleitorado que vinha se mantendo indiferente, ou mesmo omitindo suas preferências para não ser objeto de crítica ou censura pelos grupos a que pertencem. Mas isso é assunto para outro artigo.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador.

 

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