Conselho de Luís Eduardo ao velho ACM também vale para Rui Costa. E como!

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José Carlos Teixeira*

 

 “Desculpe o auê
Eu não queria magoar você
Foi ciúme, sim
Fiz greve de fome, guerrilhas, motim
Perdi a cabeça, esqueça”

(Desculpe o auê, de Rita Lee e Roberto de Carvalho)

 

Quando Antônio Carlos Magalhães foi para Brasília, como ministro das Comunicações do governo Sarney, em 1985, e depois como senador, em 1995, muitas vezes ouviu do próprio filho, Luís Eduardo, à guisa de conselho, uma frase curta para conter o ímpeto do então todo poderoso chefe político baiano:

– Meu pai, Brasília não é a Bahia.

Isso ocorria sempre que ACM pretendia aplicar na Capital Federal, no relacionamento com ministros e parlamentares, o jeito impositivo a que se acostumara no exercício do poder na Bahia.

Desde que ocupara pela primeira vez o cargo de governador, por obra e graça dos militares que derrubaram João Goulart e tomaram nas mãos o comando da República, ACM havia se habituado a mandar e desmandar. Em Brasília, porém, a banda tocava diferente.

Pelo que a imprensa nacional tem veiculado nas duas últimas semanas, reproduzindo conversas de bastidores de parlamentares governistas, assessores palacianos e dirigentes petistas, esse é um tipo de conselho que o ex-governador Rui Costa, aboletado no posto de chefe da poderosa Casa Civil do presidente Luís Inácio Lula da Silva, está precisando ouvir pelo menos três vezes por dia: de manhã, à tarde e à noite.

Ele tem sido acusado de repetir em Brasília o mesmo padrão com que tratou, nos oito anos em que governou a Bahia, deputados estaduais, prefeitos e outras lideranças políticas: sem recebê-los, sem lhes ouvir reivindicações, atendendo seus pedidos com exagerado comedimento e tratorando-os quando necessário.

Em Brasília, Rui é acusado de não ter trânsito com políticos – pecado mortal para quem precisa atuar em um Congresso sedento por benesses oficiais – e de agir na Casa Civil como ainda fosse governador, tratorando até mesmo colegas de ministério.

Um episódio que resume bem essa, digamos, falta de tato, foi o chá de cadeira de 45 minutos que ele deu no igualmente poderoso ministro da Fazenda, o também petista Fernando Haddad, em março passado.

Embora de São Paulo, Haddad não é bem assim um queridinho dos petistas paulistas. Há diferenças, talvez por conta do carinho com que Lula costuma tratá-lo e por ele ser apontado como forte presidenciável. Mas o episódio lhe rendeu a solidariedade de uma boa parcela dos dirigentes paulistas do partido, que não veem com bons olhos a forma como Rui tem se movimentado para também manter-se como um possível candidato à sucessão de Lula, caso este resolva mesmo não disputar a reeleição.

Possível candidato a presidente. Estas as palavras mágicas para explicar alguns comportamentos arrevesados de Rui Costa e que têm motivado críticas inclusive de outros ministros – até então restritas aos bastidores, mas que passaram a ganhar espaço enorme no noticiário político de Brasília e levaram Lula a defender publicamente o chefe da Casa Civil. Ou seja, não obstante as críticas, segue prestigiado, como se diz no futebol.

É o jogo da sucessão de Lula em andamento. Só que, para se posicionar bem nessa competição, seria bom Rui acrescentar à frase de Luís Eduardo Magalhães citada na abertura desse artigo um antigo provérbio português:

“Mais vale paciência pequenina do que arrancos de leão”.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador.

 

 

 

 

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