De mochilas, risos e choros

mochilão

 

José Carlos Teixeira*

O tom anedótico no noticiário da imprensa e os inevitáveis memes multiplicados nas redes sociais sobre as mochilas adquiridas pela Prefeitura de Jequié para os alunos da rede municipal de ensino nos fizeram rir, é claro. Provocaram gostosas gargalhadas Brasil afora.

É, de fato, caso para rir. Não das crianças, que, na inocência da idade, ao botarem o mochilão nas costas sentem-se participando de uma grande brincadeira. Os risos são pelo inusitado da situação criada por adultos. Sim, porque quem comprou as mochilas e as distribuiu generalizadamente entre as crianças foi um adulto. Maior, brasileiro, vacinado e portador de contracheque.

Mas, como já dizia o sambista, o que dá pra rir, dá pra chorar. “Questão só de peso e medida, problema de hora e lugar”, ensinava o saudoso Billy Blanco no samba Canto chorado, gravado, entre outros, pelo batuta Jair Rodrigues e pelo grupo Originais do Samba, aquele do não menos saudoso Mussum.

As gargalhadas não devem, porém, nos desviar da questão principal neste emblemático episódio: a seriedade na aplicação dos recursos públicos. Esta é a questão. O resto é mero diversionismo. Ou, por acaso, alguém duvida de que foi uma má compra – exceto, é claro, quem a fez e quem a autorizou.

Estamos aqui frente a um erro de gestão. O gestor comprou mal. Comprou errado. Não atentou para as especificidades da clientela, dos usuários das mochilas. Olhou apenas para uma ponta da transação, aquela em que está o fornecedor. Esqueceu-se de olhar para a outra ponta, aquela onde estão os destinatários do produto da compra, as crianças das escolas municipais.

Esta é a questão: faltou zelo no gasto dos recursos públicos. Zelar pelos recursos públicos não é apenas não roubar, nem deixar roubar. É também usá-los de forma correta. E, convenhamos, este não foi o caso.

Numa vã tentativa de justificar-se, a prefeitura informa, por meio de nota, que cada mochila custou apenas R$ 11,40 e pergunta se não devemos levar em conta a economicidade da compra. Bobagem. A questão não é preço. A questão é a adequação da compra ao seu destinatário. Ora, se a prefeitura comprasse sapatos para as crianças pelo baixíssimo valor de R$ 1,99 cada par, mas apenas no tamanho 44, seria uma boa compra? Do ponto de vista da economicidade, a pechincha seria ótima. Mas quem sabe onde o sapato aperta ou afrouxa demais é quem o calça e não necessariamente quem o compra.

Num outro ponto da nota, a prefeitura argumenta que a qualidade da educação no município é muito ruim – culpa das gestões anteriores, aponta, com razão –, conclama a sociedade a um esforço para reverter o quadro, diz que o tamanho da mochila não tem importância e insinua que a culpa é dos pais, que não carregam a mochila dos filhos.

O sambista tem mesmo razão: O que dá pra rir dá pra chorar.

* José Carlos Teixeira é jornalista.

Outras Notícias