Depois do voto na urna, a receita para espantar o tempo feio e unir o país

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José Carlos Teixeira*

“Cair no mar, lavar a alma
Tomar um banho de sal grosso, que tal?
Sair do fundo do poço
Andar de boa”

(Que tal um samba?, de Chico Buarque)

 

Nos anos de chumbo, ele desafiou a ditadura com os versos de Apesar de Você e fez crescer as nossas esperanças ao botar o Brasil para cantar a certeza de que o amanhã seria outro dia. Demorou, é fato, mas finalmente chegou o dia em que o céu clareou de repente e a manhã renasceu, espalhando alegria, esbanjando poesia e afastando a escuridão, o sofrimento e as lágrimas, como a canção augurava.

Pouco mais de meio século depois, é novamente Chico Buarque quem nos dá a receita para seguirmos em frente, após a maioria dos brasileiros decretar o fim de mais uma tenebrosa noite ao reavivar, com seus votos, no domingo passado, a chama da democracia ameaçada.

Puxar um samba, que tal?”, provoca Chico Buarque, esse contumaz atiçador da nossa indignação e revolta – e que, por isso mesmo, alguns gostariam que se mudasse para Cuba definitivamente e, se possível, trocasse a malemolência do samba por calientes rumbas de protesto contra o regime daquele país, que mesmo pequeno continua assombrando muita gente mundo afora;

Mas, porque puxar um samba? O Chico explica:

“Um samba pra alegrar o dia, pra zerar o jogo
Coração pegando fogo e cabeça fria
Um samba com categoria, com calma”

E, mais adiante, arremata:

“De novo com a coluna ereta, que tal?
Juntar os cacos, ir à luta
Manter o rumo e a cadência
Desconjurar a ignorância, que tal?”

O inspirado samba de Chico retrata muito bem o momento político que vivemos, com a eleição de Lula e após a reafirmação, pelo voto, da crença da maioria dos brasileiros na democracia.

O momento é de reunir. De unir novamente o país. Juntar os cacos, como diz o samba, e avançar na caminhada. Manter o rumo e a cadência.

Logo após a proclamação do resultado eleitoral, Lula disse que essa é a primeira tarefa, para a qual convocará todas as forças que estiveram juntas na campanha em defesa da democracia que marcou o segundo turno e lhe garantiu a vitória eleitoral.

A reunificação do país vai exigir de todos calma, cabeça fria, desprendimento e sobretudo empatia. Afinal, nem todos os que votaram em Lula são petistas – até mesmo porque, ficou claro mais uma vez, Lula sempre foi e continua sendo maior que o PT. E nem todos os que voltaram em Bolsonaro são fascistas.

Pois bem. Se, como disse Lula, o momento é de união, pois somos um só povo, um só país, que se atenda a Chico:

“Então, que tal puxar um samba?
Puxar um samba legal
Puxar um samba porreta”.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.

 

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