Deus leva Hélder e Magalhães para fazerem jornalismo no céu

foto texeira nova

José Carlos Teixeira*

 

Foi um dia triste. Uma tristeza imensa. Feira de Santana – e, em particular, a imprensa feirense – sofreu duas grandes perdas na quarta-feira. Num mesmo dia, perdemos Hélder Alencar e Antônio Magalhães – e a gente ainda vinha se recuperando do baque que foi a morte, no mês passado, da jornalista Socorro Pitombo, pioneira local da doce invasão das redações pelas mulheres.

Hélder era um redator de mão cheia. Desses que, atualmente, para se encontrar, é preciso procurar muito. Versátil, tanto era capaz de escrever um editorial sustentado em sólidos e incontroversos argumentos, como uma nota de apenas quatro linhas recheada de malícia e veneno, tão ao gosto das colunas políticas, ou mesmo uma suave crônica para deleite e fruição do leitor.

Era o que poderíamos chamar um intelectual. Leitor voraz, herdara a biblioteca do avô, o professor Gastão Guimarães, com milhares de livros – à qual acrescera outros tantos volumes. Formado em Direito, deixou o jornalismo quando assumiu a Procuradoria Jurídica da Universidade Estadual de Feira de Santana, mas seguiu cultivando as muitas amizades que fizera na área.

Magalhães era fotógrafo, igualmente talentoso. Dentre seus colegas do fotojornalismo feirense, era o que mais dominava os fundamentos da técnica de escrever com a luz. Era um aplicado estudioso da fotografia – nas suas fotos em preto e branco, nos tempos em que ele mesmo revelava o filme e fazia a cópia em papel, o branco era sempre branco e o preto era sempre preto de verdade.

Tive o prazer de trabalhar com ambos e a alegria de tê-los como amigos. Com Magalhães, trabalhei inicialmente na Sucursal dos Diários Associados, então dirigida por Antônio José Larangeira, onde me iniciei profissionalmente nas lides da imprensa. Depois, no recém-criado jornal Feira Hoje.

Com Hélder, eu trabalhei nos primeiros anos do Feira Hoje. Fomos do grupo que criou o jornal, cuja primeira edição ganhou as ruas em 5 de setembro de 1970, um sábado. Éramos nós e mais Egberto Costa, Raimundo Gama, Dimpino Carvalho, Raymundo Pinto, Luiz Almeida e Adilson Simas. Eu fui o primeiro redator-chefe e Hélder escrevia a coluna “Pois é”, voltada para o noticiário político. Em 1973, quando eu fui para a Tribuna da Bahia, em Salvador, ele me substituiu na chefia da redação.

A morte de Hélder e Magalhães foi um baque para o jornalismo feirense. Quis Deus que eles partissem no mesmo dia. Não há como saber as razões nem os propósitos d’Ele. Mas eu acredito que o Senhor deve estar montando uma redação no céu. Zeloso, está levando os melhores.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.

 

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