Dourar a pílula não resolve os problemas da segurança na Bahia

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Não era para ser assim. Não devia ser assim. Mas é a única explicação que encontro. Pode ser resumida em uma frase, curta e grossa: andam mentindo para o governador. Ou, usando uma outra construção, menos incisiva, para não melindrar ninguém com termos tão duros: andam a dourar a pílula quando prestam informações a sua excelência sobre a situação da segurança pública no território baiano.

Afinal, não sendo essa a explicação, digam-me que outra razão levaria o governador Jerônimo Rodrigues a declarar, em alto e bom som, que os indicadores da área “não são ruins”, como ele fez na semana passada, durante entrevista à imprensa?

Como não os considerar ruins se, na comparação com os outros estados, no ranqueamento nacional da segurança pública, a Bahia ocupa sempre as últimas posições, quaisquer que sejam os indicadores? Uma incomoda e vergonhosa posição que, a bem da verdade, não é de agora, perdura há vários anos, para desdita nossa.

Dizem que Dom Pedro II costumava perambular à noite, disfarçado, pelas ruas do Rio de Janeiro, então capital do Império, para ouvir o que o povo dizia dele e de sua gestão. Poderia ser um exemplo a ser seguido pelo governador baiano para saber a quantas anda a sensação de segurança – ou de insegurança – da população de Salvador. Certamente sairia com um quadro mais real da situação.

Não é recomendável, porém, que o faça. E por um motivo simples: não é seguro andar pelas ruas da cidade de dia, quanto mais à noite, como bem sabe o vice-governador Geraldo Júnior.

O vice confirmou recentemente que conta com uma tropa de 33 policiais militares cuidando de sua segurança pessoal e disse, certamente em tom de blague, que tal efetivo era pequeno diante do tamanho da missão e que pensava em convocar mais 40 homens para a perigosa tarefa.

Pelo dito – e sobretudo pelo que podemos imaginar –, o vice-governador, que não se cansa de dizer que divide com Jerônimo a governação da Bahia, também tem medo de andar sozinho por onde anda, como acontece com a maioria dos baianos.

Há que se destacar ainda que aqueles que douram a pílula para o governador são os mesmos que o levam a dizer que a culpa pela sensação de insegurança que ronda os lares baianos é da imprensa, que age de má fé ao noticiar as ocorrências dessa área. Para eles, a segurança – ou sua falta – é uma questão de comunicação, que deve ser resolvida com maior carga de propaganda.

Por essa lógica, caso os jornais, as emissoras de rádio e televisão, os sites de notícias, toda a imprensa, suspendessem suas atividades por um dia, os homicídios, os feminicídios, os latrocínios, as agressões, os assaltos, os roubos, os furtos… toda a atividade criminosa enfim também cessaria por 24 horas.

Mas nem tentem. Já vi esse filme. E o artista, digo, o povo, morre no final, junto com a democracia.

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador.

 

 

 

 

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