É dureza, mano! Crescem ataques à imprensa e aos jornalistas

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José Carlos Teixeira*

 

Nunca foi fácil. Quando feito com seriedade e destemor, o trabalho dos jornalistas nunca foi fácil – e continuará não sendo, não tenham dúvidas, exceto para aqueles que renunciam a dois princípios basilares no exercício da profissão: a incessante busca da verdade e a capacidade de permanente indignação.

Mas, como se não bastasse o fato de terem sido atirados no olho do furacão desencadeado pela pandemia de covid-19 – afinal, a informação de qualidade tem sido, em todo o mundo, uma das principais armas no combate ao novo coronavírus – os jornalistas brasileiros passaram a enfrentar nos últimos anos sistemáticos ataques à sua atuação e até mesmo à sua integridade física.

Desde 2019, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) vem identificando um aumento anormal nos índices de violência contra os profissionais de imprensa no Brasil.

De acordo com um relatório divulgado pela entidade na quinta-feira passada, a descredibilização dos jornalistas e dos veículos de comunicação foi a principal forma de violência contra a imprensa no Brasil em 2021, embora ocupe a segunda posição neste triste e vergonhoso ranking.

É que a censura a jornalistas, que ocupa a primeira posição, ficou praticamente restrita à Empresa Brasil de Comunicação, a EBC, uma estatal do governo federal. Dos 140 casos de censura registrados em 2021 (o equivalente a 32,56% dos ataques à imprensa no período), 138 foram praticados por essa empresa pública contra seus próprios jornalistas.

Já os casos de descredibilização da imprensa no mesmo período somaram 131 ataques espalhados pelo país – embora a maioria deles tenha sido cometida pelo presidente Jair Bolsonaro em suas redes sociais, discursos e, sobretudo, em pronunciamentos quase diários a seus apoiadores na porta do Palácio da Alvorada.

O mais preocupante, porém, é que os ataques à imprensa e aos jornalistas generalizaram-se país afora. Seja na forma de críticas genéricas à mídia como um todo e a veículos de comunicação específicos, seja por meio de ataques à categoria em geral. E a previsão é que o número dessas investidas aumente substancialmente este ano, em consequência da campanha eleitoral.

A banalização desses ataques levou um vereador de Feira de Santana a disparar contra a imprensa local, no mês passado. Durante entrevista a uma emissora de rádio – na qual ele falou livremente, vejam só – disse que 90 por cento dos veículos de comunicação da cidade recebem dinheiro da prefeitura para falar bem do governo municipal.

Em princípio, deveríamos considerar que a informação é verdadeira, pois partiu de uma autoridade. Foi dita, em alto e bom som, por um vereador, que tem o compromisso de falar a verdade, solenemente assumido quando tomou posse no cargo, o que lhe confere fé pública.

Confesso que a revelação deu um nó na minha cabeça. É que tenho ligações pessoais com boa parte dos profissionais de imprensa da cidade, onde me iniciei no jornalismo. Trago alguns deles guardados no lado esquerdo do peito, como diz Milton na canção. De outros, mais novos, com os quais não tive a alegria de dividir a mesma pauta, acompanho e aprecio o trabalho regularmente.

Por conta disso, me recuso a acreditar que nove em cada dez veículos de comunicação de Feira de Santana sejam meras bancas onde se comercializam notícias – boas ou más, a depender do interesse e do bolso do freguês. Recuso-me igualmente a acreditar que os profissionais que neles trabalham sejam venais e se deixem corromper pelo dinheiro fácil dos que buscam notícias boas a qualquer preço.

O exercício da profissão me leva a duvidar sempre. De tudo e de todos. Até que a apuração criteriosa estabeleça a verdade.

Caso não queira revelar de viva voz quais são os veículos de comunicação de Feira de Santana que vendem notícias e quais são os jornalistas venais, o nobre vereador deveria, ao menos, enumerar aqueles 10 por cento nos quais a gente pode confiar. A população de Feira agradece.

 


*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.

 

 

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