Eleitor quer shippar Neto e Lula

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José Carlos Teixeira*

Especialistas em marketing eleitoral que assessoram a oposição baiana discutem, reservadamente, formas para estimular maior número de eleitores a shippar ACM Neto e Lula na eleição que se avizinha.

Como sabemos, shippar é o ato de unir partes dos nomes de duas personalidades, criando uma nova expressão para indicar que se aprova um relacionamento entre elas e que se torce para que ambos acabem juntos.

No Brasil, o caso mais famoso de shipp até agora foi o BRUMAR, criado por fãs que queriam reunir o casal Bruna Marquezine e Neymar.

Na Bahia, pode vir a ser o NELU – o casamento das candidaturas de Neto a governador e Lula a presidente.

As pesquisas de intenção de voto realizadas na Bahia até agora, aliás, já mostram que parte do eleitorado já está shippando o NELU.

Líder absoluto na disputa presidencial, Lula beira os 70% das intenções de votos dos baianos, no confronto direto com Bolsonaro, segundo pesquisa divulgada pela Atlas no início de novembro.

O percentual obtido pelo ex-presidente é quase a soma das intenções de voto obtidas por ACM Neto (45%) e Jaques Wagner (27%). Ou seja, já tem gente shippando a chapa NELU.

Wagner crê que reverterá o quadro quando a campanha propriamente dita começar, surfando em uma nova onda Lula.

Neto acredita que também crescerá nessa onda, com o eleitor shippando a chapa NELU.

Lula torce por Wagner, é claro, mas, pragmático que é, também quer os votos dos eleitores de Neto.

E shippar funciona na política? Há precedente, como sabemos:

A eleição do tucano Lúcio Alcântara para o governo do Ceará em 2002 parecia uma barbada. Ele era senador e já tinha sido prefeito de Fortaleza, vice-governador e deputado federal por dois mandatos.

Seu principal adversário era o petista José Airton Cirilo, que tinha sido vereador em Aracati, sua cidade natal, e prefeito de Icapuí, município de 20 mil habitantes no litoral cearense.

Até mesmo entre os adversários dava-se como certo que Lúcio seria eleito com larga margem de votos. E logo no primeiro turno, indicavam todas as pesquisas.

Os tucanos eram a maior força da política local. Estavam aboletados na cadeira principal do Palácio da Abolição, sede do governo do Ceará, desde 1987, com três mandatos do empresário Tasso Jereissati e um de Ciro Gomes, todos bem avaliados pelos eleitores.

Lúcio foi o mais votado. Passou raspando, mas não conseguiu vencer na primeira rodada. Teve 1.625.202 votos (o equivalente a 49,79% dos votos válidos). Uma frente de 700.502 votos sobre Zé Airton, o segundo colocado, que obteve 924.680 (28,33% dos válidos).

Era uma frente grande, mas que não conseguiu sustentar-se. Logo na primeira semana da campanha do segundo turno as pesquisas indicaram um enorme crescimento de Zé Airton, puxado pela “Onda Lula” que tomava conta do país. “É Lula lá e Zé Ailton cá”, repetia a campanha petista no rádio e na televisão.

Na segunda semana, a frente de Lúcio já sumira pelo ralo e o desespero tomava conta do arraial tucano do Ceará.

Foi quando Ciro Gomes entrou na campanha e criou o primeiro Comitê LU-LU – ou seja, Lula para presidente e Lúcio para governador. “É Lula lá e Lúcio cá”, passaram a dizer os tucanos, surfando na mesma onda e provocando a reação indignada dos adversários.

“Lula é nosso”, protestavam os petistas. “É nosso também”, replicavam os tucanos.

Pesquisas internas mostraram que estava dando certo. Mais comitês LU-LU foram criados, a migração de votos para o candidato petista parou e começou a refluir.

No dia da eleição, a pesquisa boca-de-urna do Ibope indicou empate técnico, mas com vantagem de quatro pontos percentuais para o petista: 52% a 48%.

Foi rebate falso: Lúcio venceu a eleição com 1.765.726 votos. Exatos 3.047 votos a mais que Zé Ailton. Não fossem os comitês LU-LU inventados por Ciro Gomes ele perderia feio.

Vinte anos depois, a Bahia vive uma situação parecida:Neto lidera, mas Wagner tende a crescer levado pela onda Lula.

Como sabemos, ninguém controla a onda. Mas todo mundo pode aprender a surfar.

E convém lembrar: Bruna e Neymar não passaram da fase de namoro. Ou seja, nem todo casal shippado acaba junto no final.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista e especialista em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública.

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