Fila por readequação sexual no SUS demora até 12 anos

No ano passado, foram feitos 3.440 procedimentos de transexualização em todo o país (Foto : Reprodução / Espaço Fábio Guedes)
No ano passado, foram feitos 3.440 procedimentos de transexualização em todo o país (Foto : Reprodução / Espaço Fábio Guedes)
 No ano passado, foram feitos 3.440 procedimentos de transexualização em todo o país (Foto : Reprodução / Espaço Fábio Guedes)
No ano passado, foram feitos 3.440 procedimentos de transexualização em todo o país (Foto: Reprodução / Espaço Fábio Guedes)

Os procedimentos para adequação do corpo de quem não se identifica com o sexo biológico passaram a ser oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em 2008, mas até hoje só são feitos em cinco estados e em uma escala muito menor do que a demanda. A espera pela cirurgia de readequação sexual no SUS leva, em média, de 10 a 12 anos, de acordo com relatos de pacientes. No ano passado, foram feitos 3.440 procedimentos de transexualização em todo o país, entre cirurgias de redesignação sexual, retirada das mamas, plástica mamária reconstrutiva (incluindo a colocação de próteses de silicone) e tireoplastia (troca da voz).

Para a ativista sexual Walleria Suri, 39 anos, a maior angústia das pessoas que precisam da cirurgia é não saber quantos anos vão esperar, o que pode agravar os conflitos emocionais gerados pela “vida segregada que a sociedade as impõe”. Além de terem de conviver com uma aparência física com a qual não se identificam. “O pênis era a parte do meu corpo que mais me causou repulsa a minha vida toda”, conta. Walleria, fez a cirurgia há dois meses, depois de esperar por cinco anos na fila do SUS. “O maior medo que eu tinha era de morrer antes de fazer a operação. Era como se eu pudesse morrer antes de nascer de verdade”.

Bem antes de encarar a fila do SUS, Walleria conta que enfrentou crises de depressão entre a infância e a vida adulta. Foi somente aos 34 anos que conseguiu fazer a transformação: comprou roupas femininas e jogou fora todas as masculinas do armário: “Apesar do medo, da vergonha e da culpa que eu sentia no começo, estar finalmente vivenciando uma existência feminina foi tão libertador, tão compatível com meus desejos, sentimentos e instintos, que não tive mais dúvida sobre minha natureza. Realmente, eu tinha nascido mulher com corpo de homem”.
O Ministério da Saúde informou que, “como o processo é irreversível”, é preciso acompanhamento psicológico por pelo menos dois anos “para que o paciente tenha certeza de suas vontades”.

Os procedimentos ambulatoriais incluem acompanhamento multiprofissional, além de hormonioterapia, e a idade mínima para se submeter a eles é de 18 anos – e de 21 anos para a cirurgia. Mas até mesmo para fornecer o atendimento psicológico, o sistema demora. A cabeleireira Patrycia Nunes, de 35 anos, esperou seis meses para conseguir o atendimento psicológico e um ano para iniciar o tratamento de hormonioterapia pelo SUS. “Comecei a minha transformação aos 14 anos e já passei a tomar hormônios femininos por conta própria. Por ter tomado hormônio por tanto tempo sem orientação, hoje tenho um tumor na hipófise, está controlado, mas ainda é grave”, diz.

Foi também só depois de um ano já fazendo acompanhamento pelo SUS que Patrycia conseguiu incluir seu nome na lista de espera para a cirurgia de redesignação. “Eu preciso dessa cirurgia. É devastador acordar todos os dias e olhar para um órgão que eu não queria ter, que não quero ver nem cuidar. É muito desgastante.” Ela estuda entrar com uma ação judicial para garantir o procedimento antes dos dez anos previstos.

(*Estadão)

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