Governador determina força total à PM, mas o medo entre os baianos só faz crescer

teixeira foto nova

José Carlos Teixeira*

“Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços”

(Congresso Internacional do Medo,

de Carlos Drummond de Andrade)

 

“Para Angola rapidamente e em força total”. A frase foi proferida por Antonio de Oliveira Salazar, em 13 de abril de 1961, quando o ditador português se apercebeu da gravidade dos ataques a repartições coloniais e fazendas de colonos brancos iniciados quatro semanas antes. Centenas de brancos e um número maior e indeterminado de mestiços e negros foram mortos nos primeiros dias dos ataques, considerados como um dos marcos iniciais da luta armada contra o colonialismo português em Angola.

A frase de Salazar me veio à memória quando ouvi o governador Rui Costa determinar “o uso de força máxima” à polícia baiana para identificar e capturar com rapidez os criminosos responsáveis pela morte de três policiais militares na semana que passou – um deles em confronto armado com bandidos e os outros dois emboscados quando retornavam do funeral do primeiro.

Em ambos os casos, a mensagem política foi clara: haveria uma forte reação militar aos ataques. Traduzindo: se é guerra, não mediremos esforços para vencê-la.

Em Angola, as tropas enviadas por Lisboa recuperaram os territórios tomados pelos insurgentes no norte do país, mas não conseguiram impedir novas rebeliões em outras regiões, inclusive na capital – até que, em 1974, a Revolução dos Cravos derrubou a ditadura salazarista, abrindo caminho para a independência do país africano no ano seguinte.

Na Bahia também vivemos em tempo de guerra:  a “força máxima” já resultou na morte de 10 suspeitos de participação nos ataques aos três policiais militares. Todos morreram em confrontos armados com guarnições da PM – até agora, apenas um acusado foi capturado vivo. A busca por outros suspeitos prossegue.

A operação de guerra contra os autores da morte dos três policiais, no entanto, não contribuiu para reduzir a sensação de insegurança que tomou conta dos baianos. Pelo contrário, ela aumenta a cada dia, como resultado do avanço da criminalidade e do aumento da violência registrados nas últimas semanas em todo o Estado – e mais intensamente na capital e nas cidades mais populosas do interior.

Os baianos estão cada vez mais com medo. É o que revela um dado da pesquisa Genial/Quest divulgada nesta quarta-feira, 18. Perguntados sobre qual o maior problema enfrentado pelo estado, 25% dos entrevistados responderam que é a violência. Na pesquisa realizada no mês passado, eles eram 10%. Um espantoso crescimento de 150%.

Outro dado, divulgado no mesmo dia, mostra a Bahia liderando o ranking nacional de mortes violentas nos três primeiros meses deste ano. Foram 1.326 ocorrências, com a Bahia à frente de Pernambuco (963), de São Paulo (812) e do Rio de Janeiro (781). A informação é do Monitor da Violência do site G1 e da Universidade de São Paulo (USP).

Pressionado pelo avanço dos números negativos e com seu governo insistentemente apontado pela oposição, em plena campanha eleitoral, como responsável pela dramática situação, Rui Costa , que no mês passado havia autorizado a realização de concurso para 1.000 vagas de policiais civis, resolveu aumentar a força da tropa: anunciou novo certame para a contratação de mais 2.000 policiais militares e determinou a aquisição de 1.000 fuzis.

Mas até lá tem que solucionar outra crise na área: o Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado da Bahia anunciou que mais de 400 delegados entregaram os cargos comissionados nesta mesma quarta-feira. Protestam pelo tratamento que dizem receber do governador, o qual, segundo a entidade, se recusa a discutir as reivindicações da categoria.

Enfim, os problemas na área explodem e se acumulam na mesma proporção em que aumenta o medo da população. Medo que rompe os laços de solidariedade pois, como lembra o poeta, “esteriliza os abraços” e faz o amor refugiar-se “mais abaixo dos subterrâneos”.

Definitivamente, vivemos um tempo de guerra.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.

 

 

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