Governo baiano afrouxa na defesa do meio ambiente e devastação do Cerrado avança

foto texeira nova

José Carlos Teixeira*

“Que barulho é esse?

Ó meu Deus!

Tem alerta na mata, atenção!

Motosserra cortando o Cerrado

E chegando a civilização”

(Baião do Cerrado, de Pedro Badke)

 

Nada é tão ruim que não possa piorar, reza uma das famosas leis atribuídas ao engenheiro americano Edward Murphy. Pois bem, a Bahia, que ocupa um nada honroso quinto lugar no ranking nacional do desmatamento, conquistado no ano passado, quando contribuiu com 9,19% da área desmatada no país, correspondendo a 152.098 hectares, poderá subir algumas posições na lista nos próximos dois anos, preveem ambientalistas.

Eles tomam por base, em primeiro lugar, a complacência com que os governo petistas têm tratado o assunto desde a instituição, ainda na gestão de Jaques Wagner, da “Licença Ambiental por Adesão e Compromisso”, que vem a ser o sonhado autolicenciamento que a bancada ruralista tenta implementar em nível nacional. Não por coincidência, o petista Jerônimo Rodrigues foi o candidato a governador da Bahia mais agraciado por doações de empresários do agronegócio no primeiro turno.

Mas, como se não bastasse esse liberou geral, que resultou em um progressivo aumento da supressão de vegetação nativa do Estado, contrariando uma das mais caras pautas dos partidos de esquerda, que é a defesa do meio ambiente, um novo elemento promete acelerar ainda mais o processo de devastação nas terras do Matobiba, a nova fronteira agrícola formada por áreas majoritariamente de Cerrado nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, onde o agronegócio se expandiu a partir da segunda metade dos anos 1980.

É que as multinacionais do agronegócio e os grandes operadores desse mercado se comprometeram a não mais comprar soja produzida em áreas desmatadas do Cerrado brasileiro a partir de janeiro de 2025. O compromisso já foi firmado e deverá ser referendado na COP-27 —a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2022, que será realizada de 6 a 18 de novembro no Egito.

Como o embargo só abrangerá as áreas desmatadas a partir de janeiro de 2025, os ambientalistas acreditam que a iniciativa inevitavelmente resultará em um crescente avanço do desmatamento legal nos próximos dois anos.

Sem contar as ações ilegais como a retirada de vegetação até mesmo em áreas consideradas griladas pelo Incra. Um exemplo é o Condomínio Cachoeira do Estrondo, em Formosa do Rio Preto, que é apontado pelo Incra como a maior área grilada da Bahia e uma das maiores do Brasil. Mesmo assim, recebeu autorização do governo Rui Costa para suprimir 24,7 mil hectares de vegetação nativa. Isso, apesar de o próprio governo estadual estar movendo uma ação na Justiça reivindicando a propriedade de áreas ocupadas pela megafazenda.

Mas voltemos à lei de Murphy: as consequências do desmatamento desenfreado do Cerrado podem ficar ainda pior para o agronegócio baiano na área devastada do Matopiba: em setembro passado o Parlamento Europeu aprovou um projeto que proíbe a entrada naquele mercado de commodities produzidas em áreas desmatadas, mesmo legalmente, após 31 de dezembro de 2019. O texto, porém, ainda precisa ser validado pelos 27 países da União Europeia.

A concretização de tais embargos deverá resultar em uma quebra de bilhões de dólares nas exportações da soja produzida no Cerrado, afetando negativamente o PIB da Bahia, caso não se encontrem outros compradores que, como o governo baiano, pouco estejam ligando para a questão ambiental.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador.

 

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