Herança Maldita 2 – O desafio de Jerônimo para dar cidadania a 1,5 milhão de analfabetos

foto texeira nova

José Carlos Teixeira*

 

“Nada de pior conheço
Do que ser anarfabeto
Sem saber diferençá
O errado do que é certo”

(Indagações de um analfabeto,

de Moraes Moreira e Zé Walter)

 

A alta taxa de analfabetismo da população baiana é parte da herança maldita que o governador eleito da Bahia, Jerônimo Rodrigues, vai receber ao assumir o cargo, no primeiro dia do próximo janeiro. São mais de 1,5 milhão de baianos que não sabem ler e escrever um bilhete simples sequer e nem mesmo realizar as quatro operações básicas de matemática.

A esses excluídos vem sendo negada a cidadania, entendida como o próprio direito à vida em seu sentido pleno. Sim, meu caro leitor, porque a cidadania começa com o alfabeto, como já bem advertia o saudoso Ulysses Guimarães no histórico discurso que proferiu em 5 de outubro de 1988, ao promulgar a Constituição Cidadã, como ele a denominou.

É afrontoso, amável leitora, mas a Bahia não só é campeã nacional de analfabetismo, como também vem registrando crescimento constante no número de analfabetos nos últimos anos. Isso depois de ter sido apontada como o estado campeão em alfabetização do país e ter virado referência para outros estados no combate ao analfabetismo. Tanto que o programa Todos Pela Educação, o Topa, implantado no primeiro mandato do governador petista Jaques Wagner, chegou a receber o Prêmio Darcy Ribeiro de Educação, por sua eficácia pedagógica na redução do analfabetismo.

O Topa, segundo a propaganda governamental – que, como sabemos, nem sempre prima pela verdade –, alfabetizou mais de 1,4 milhão de pessoas na gestão de Wagner e tornou-se uma marca forte de seu governo. A partir daí, porém, o programa começou a ser abandonado gradativamente. Na administração do também petista Rui Costa, o combate ao analfabetismo deixou de ser prioridade

O resultado é que embora o analfabetismo continuasse em queda no país, na Bahia seguiu o caminho inverso nos últimos anos. Segundo o módulo Educação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), realizada pelo IBGE, em 2019 o Brasil tinha pouco mais de 11 milhões de brasileiros com 15 anos ou mais de idade, que ainda não sabiam ler ou escrever, o equivalente a 6,6% da população do país. Na Bahia, eram 1.538.293 pessoas, o correspondente a 12,9% da população do Estado.

Há ainda os analfabetos funcionais, como são chamadas as pessoas que conseguem escrever e soletrar palavras, mas não conseguem compreender o que diz um determinado texto. Consequência da fragilidade do ensino público prestado aos jovens baianos. Mas essa é outra parada e fica para outro artigo.

Por enquanto, alimentemos a esperança: no Dia Nacional da Alfabetização, 14 de novembro, a assessoria de Jerônimo Rodrigues distribuiu uma nota na qual o governador eleito reafirma seu compromisso de enfrentar o analfabetismo no Estado.

É como se diz: enquanto houver vida, há esperança.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.

 

 

 

 

 

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