Imagina só essa mistura: Neto e Jerônimo se enfrentando, mas ambos apoiando Lula

teixeira foto nova

Será só imaginação?
Será que nada vai acontecer?
Será que é tudo isso em vão?
(Será, de Renato Russo, Dado e Bonfá)

 

Só na próxima semana se saberá, com alguma certeza, as consequências na corrida sucessória do debate organizado por um pool formados pelas TVs Bandeirantes e Cultura, o jornal Folha de S. Paulo e o portal de notícias UOL, e que reuniu seis candidatos à Presidência da República na noite de domingo, na sede da Band, em São Paulo.

É quando as pesquisas de intenção de voto deverão mostrar se as performances dos candidatos impactaram os eleitores indecisos a ponto de levá-los a tomar uma posição e, no caso dos que já haviam decidido em quem votar, se provocou mudança de votos.

Por enquanto, prevalecem as opiniões de primeira hora dos analistas políticos na imprensa, a maioria atribuindo ganhos a Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) e perdas a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e sobretudo a Jair Bolsonaro (PL). O ex-presidente por não ter conseguido se desvencilhar das acusações de corrupção que pesam sobre os governos petistas. O presidente atual por ter-se rendido à própria natureza, como o escorpião da fábula, e atacado duas mulheres – a jornalista Vera Magalhães e a candidata Simone Tebet.

Bom, há também o julgamento pessoal dos seguidores de cada um dos candidatos que se dispuseram a acompanhar as quase três horas de duração do confronto, que asseguraram à Band uma audiência superior à do Fantástico da Rede Globo. Descartemos, porém, a opinião deles – afinal, são opiniões contaminadas, mesmo que involuntariamente, pelo viés de torcedor.

De todo modo, o debate entre os candidatos a presidente fez acender uma luz amarela na coordenação da campanha do candidato da situação ao governo baiano. É que as boas performances de Ciro Gomes e Simone Tebet poderão render a ambos, sobretudo à candidata emedebista, um ligeiro crescimento nas intenções de voto. Na pesquisa IPEC divulgada na noite desta segunda-feira, 29, mas que ainda não ela tinha 3% e ele, 7%.

Um crescimento de Ciro e Simone poderá descartar completamente a possibilidade de vitória de Lula no primeiro turno, como acreditavam os dirigentes da campanha do petista, afetando em cadeia o andamento da disputa da sucessão baiana.

Com ACM Neto liderando a disputa com folga em todas as pesquisas (exceto no controvertido levantamento da AtlasIntel, que aponta Jerônimo na liderança, com 38%, e Neto em segundo lugar com 35,6%, em situação de empate técnico), a estratégia dos petistas baianos é levar a disputa para o segundo turno, quando contaria com a ajuda redobrada de Lula já eleito presidente no primeiro turno. Mas, com Lula igualmente disputando a segunda volta, essa vantagem adicional cai por terra.

A perspectiva de uma disputa presidencial em dois turnos, além do mais, forçará Lula a buscar mais apoio à direita, inclusive retomando logo o diálogo com o União Brasil, de ACM Neto, e o PSD de Gilberto Kassab. Caso as duas eleições sejam remetidas para o segundo turno e tais acordos se concretizem, teríamos na Bahia, os dois candidatos a governador apoiando um mesmo candidato a presidente: Lula.

Esse quadro, se ocorrer, exigirá uma reformulação geral de táticas e estratégias eleitorais, de ambas as partes, no plano estadual, para evitar um nó na cabeça do eleitor. De saída, cairia por terra o movimento de colar Jerônimo em Lula e atirar ACM Neto no colo de Bolsonaro.

A conferir, pois, como sabemos, política é como nuvem: a gente olha, está de um jeito; olha novamente e tudo mudou.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador.

 

 

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