Invasões do MST aceleram instalação de CPI na Assembleia e na Câmara dos Deputados

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José Carlos Teixeira*

 

“Se a gente acostumar a gente vai ficar

A gente tá querendo variar

E a sua praia vem bem a calhar”

(Nós vamos invadir sua praia, de Roger Moreira)

 

Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva incorporou João Pedro Stédile ao numeroso séquito que levou à China para um encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, certamente não o fez para que o bambambã do Movimento dos Sem Terra (MST) pudesse aprofundar seus conhecimentos sobre a Grande Marcha.

Economista graduado pela PUC-RS, Stédile deve conhecer bem a história da lendária marcha de mais de 12 mil quilômetros empreendida em 1934 por Mao Tsé-Tung à frente de 100 mil homens do Exército Vermelho dos Operários e Camponeses – só 10% da tropa conseguiu sobreviver à dura jornada, mas o movimento acabou consagrando Mao como principal líder da Revolução Chinesa que em 1949 conquistaria o poder e proclamaria a República Popular da China.

Lula na verdade queria prestigiar Stédile, adoçando-lhe a boca para, ao mesmo tempo, fazer ver a ele o quanto seria prejudicial a seu ainda iniciante governo a anunciada radicalização do Abril Vermelho, que é como o MST denomina as jornadas que tradicionalmente realiza neste mês, com invasões de fazendas em todo o país.

É preciso levar em conta que o MST participa do governo federal, deve ter dito o presidente da República a Stédile. Afinal, o movimento conseguiu emplacar uma de suas coordenadoras nacionais, Kelli Mafort, como secretária de Diálogos Sociais e Articulação de Políticas Públicas da Presidência da República, e Milton José Fornazieri, coordenador de produção das cooperativas, no cargo de secretário de Abastecimento, Cooperativismo e Soberania Alimentar do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Tudo indica que Stédile cedeu à argumentação de Lula. Tanto que no último fim de semana os sem-terra trataram de deixar uma fazenda que haviam ocupado no município de Petrolina (PE), pertencente – pasme o leitor! – à Embrapa Semiárido. É que não estava caindo bem o MST, que integra o governo, ocupar uma área pertencente a um dos mais importantes centros de pesquisa desse mesmo governo, com preciosa atuação voltada para a sustentabilidade dos sistemas de produção agrícola na região do Semiárido.

Só que, nesse mesmo fim de semana, atuando na contramão do desejo do presidente Lula, integrantes da banda baiana do MST decidiram invadir três fazendas (em Guaratinga, Juazeiro e Jaguaquara). E como o MST na Bahia ocupa postos na administração estadual, inclusive o comando da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, a invasão acabou colocando o próprio governador Jerônimo Rodrigues em linha de confronto com o querer e a conveniência do presidente da República.

Fato é que a invasão das três fazendas pelo MST baiano – em um momento em que o próprio Lula pedia moderação – acabou acelerando a pressão da bancada ruralista pela instalação de uma CPI na Câmara dos Deputados, com apoio dos deputados bolsonaristas, o que deve ocorrer até o fim desta semana. E tudo o que o governo federal não deseja no momento, como bem sabe a informada leitora, é a instalação de uma segunda CPI – a outra, também com instalação praticamente definida para já, é a que vai investigar os atos golpistas do 8 de janeiro.

Os invasores baianos também fizeram aumentar a pressão pela instalação imediata, na Assembleia Legislativa, de uma CPI para investigar as invasões de terras ocorridas no Estado. Quanto a esta, até mesmo o presidente da Casa, deputado Adolfo Menezes (PSD), a quem cabe dar andamento à instalação da comissão, mesmo contrariando orientação do governador, já avisou: “Sou totalmente contra a barbárie, contra estes movimentos que invadem terras e fazendas produtivas”.

Nesta terça, Menezes receberá na Assembleia Legislativa uma comissão de empresários do agronegócio, antecedendo a reunião que eles farão, em um auditório da Casa, para discutir e defender medidas mais rígidas para conter a invasão de terras no Estado.

Vão cobrar principalmente um posicionamento do governo estadual diante das ações do MST, como se não soubessem, de antemão, que Jerônimo vai seguir a mesma orientação dos dois governadores petistas que o antecederam: apoio total aos invasores.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador.

 

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