Lá vem o trem Salvador-Feira para turbinar a campanha de Zé Neto a prefeito

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José Carlos Teixeira

“Café com pão

Café com pão

Café com pão

Virgem Maria, que foi isto maquinista?”

(Trem de ferro, de Manuel Bandeira e Tom Jobim)

Há exatos 851 dias, completados nesta sexta, 16, foi suspensa a circulação dos trens que faziam a ligação Paripe-Calçada. Era o fim de um serviço de transporte barato que há mais de 160 anos atendia aos moradores do Subúrbio Ferroviário de Salvador.

A medida atendia a uma causa nobre: a substituição dos antigos trens por uma versão mais moderna, o VLT (sigla para veículo leve sobre trilhos), um transporte que se situa entre o metrô e o ônibus convencional e não precisa de faixa exclusiva, circulando no nível da rua.

O novo modal (para usar um jargão dos técnicos em transporte apropriado por velhos políticos e jovens jornalistas na intenção de conferir um falso tom de modernidade a seus discursos) teria 21 modernas estações e a capacidade de transportar 150 mil passageiros por dia.

Passaram-se oito anos desde a apresentação oficial do projeto, devidamente embalada pela propaganda oficial. A promessa de trens modernos, confortáveis, climatizados, silenciosos e operando em horários precisos, sem atrasos, porém, até hoje não saiu do papel, abatida por percalços de diversas ordens.

De concreto, apenas a alteração do projeto, trocando-se o veículo leve por um monotrilho (que é mais caro, pois exige via exclusiva e há apenas um fornecedor do trilho), a demolição de antigas estações e a colocação de tapumes isolando as áreas por onde passavam os trilhos do velho trem.

O início das obras depende da superação de impasses, inclusive o aumento dos valores do contrato de parceria público-privada (PPP) firmado entre o Governo do Estado e o consórcio Skyrail Bahia, controlado pelo grupo chinês BYD. Começou em R$ 1,5 bilhão e, atualmente, chega a R$ 5,2 bilhões. Mas ainda não há sinais concretos de que os impasses serão superados a curto prazo.

A fábrica de projetos, porém, não para de produzir. Na próxima segunda-feira, 19, técnicos do Governo do Estado e da CCR Metrô Bahia, empresa que administra e opera o metrô de Salvador, iniciam os estudos de viabilidade para a implantação de um sistema de transporte de massa – que pode ser trem ou metrô – ligando Feira de Santana à capital.

O anúncio foi feito na quarta passada, 14, pelo próprio governador Jerônimo Rodrigues. A rigor, não é nenhuma novidade. Há 10 anos, em maio de 2013, Rui Costa, então secretário da Casa Civil do Governo da Bahia, anunciou a mesma coisa, inclusive informando que seria um trem de passageiros veloz, que circularia com a velocidade de 140 km/h, e que o traçado da linha já estava sendo feito. Mas ficou nisso.

De todo modo, o trem-bala unindo a capital à Princesa do Sertão deverá ser o cavalo de batalha da campanha eleitoral do PT nas eleições municipais do próximo ano, quando o deputado federal Zé Neto disputará pela sexta vez a prefeitura feirense – perdeu nas outras cinco, mas isso é apenas um detalhe.

Jerônimo, que é professor da Universidade Estadual de Feira de Santana e morou naquela cidade por uns tempos, está declaradamente empenhado em conquistar para o PT o comando da maior cidade do interior da Bahia. Tem visitado Feira regularmente – só na micareta, foi duas vezes.

O governador chegou a anunciar que coordenará pessoalmente a campanha eleitoral do correligionário – um equívoco, aliás, pois se o candidato perder, o que em circunstâncias normais passaria apenas como mais um insucesso de Zé Neto se transformará numa derrota pessoal do governador.

Zé Neto, já ungido pré-candidato do PT pelo diretório municipal do partido, tem experiência tanto em disputar a prefeitura como em incluir projetos mirabolantes nos planos de governo que apresenta ao eleitorado. Certa vez, ele propôs, como solução para o trânsito no centro da cidade a construção do que denominou “trivia” – uma espécie de elevado, com mais de 15 km de extensão, ligando o campus da UEFS ao final da Avenida Getúlio Vargas, por onde circulariam exclusivamente ônibus urbanos.

Para o deputado, transformar-se no pai do trem-bala Salvador-Feira durante a campanha eleitoral será moleza. Mesmo que tudo indique que o projeto tão cedo não vai sair do papel, tomando o mesmo caminho do VLT de Salvador. A conferir.

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador.

 

 

 

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