Mais uma mudança na sucessão da Bahia: sai a Operação Tabajara; agora é barata-voa

foto texeira nova

José Carlos Teixeira*

 

“Política é como nuvem.

Você olha, ela está de um jeito.

Olha de novo e ela já mudou.”

(Magalhães Pinto)

 

Não é um mero jogo de palavra a reflexão acima, cuja autoria é atribuída ao ex-governador mineiro. De fato, as coisas da política vivem em permanente mutação, tantas são as variáveis que a cercam e os múltiplos interesses em jogo. Assim, muitas vezes, o que ontem se tomava como definitivo, hoje já não o é – e não deve ser tido como surpresa se amanhã voltar a sê-lo. Ou não.

Veja-se por exemplo o caso do tarimbado José Ronaldo de Carvalho, quatro vezes prefeito de Feira de Santana, a maior cidade do interior da Bahia e segundo maior colégio eleitoral do Estado, com mais de 400 mil eleitores. Candidato a governador em 2018, após ACM Neto desistir de disputar o cargo, ele foi dormir com a chapa completa na noite de 3 de agosto, véspera da convenção que iria homologar as candidaturas, e amanheceu sem candidato a vice.

A candidata a vice-governadora seria a major Denice Santiago. Ela mesma, gentil leitora, a oficial da PM baiana que criou a Ronda Maria da Penha, aquele programa de proteção a mulheres vítimas de violência doméstica. Ela mesma, amável leitor, aquela que o governador Rui Costa sacaria dois anos depois para ser a candidata do PT à prefeitura de Salvador. Ah, esse Rui!

Pois foi assim: durante a noite, a major aconselhou-se com seus travesseiros (alguns deles fardados, ao que se diz) e decidiu que não iria embarcar naquela viagem, deixando Zé Ronaldo na mão – a substituta, Mônica Bahia, foi escolhida de última hora, já nos bastidores da convenção.

É assim, a política. Como nuvem. Às vezes viaja tranquila pelo céu, alterando a conformação lentamente. Outras vezes corre rápida, transmudando-se com mais ligeireza. O fato é que nesse viajar está sempre mudando. Quem é do ramo, aprende desde cedo a ler as nuvens da política, a identificar o ritmo com que ela se desloca e, sobretudo, a prever para onde ela vai e com que forma vai se apresentar.

Mas o que vem acontecendo nas hostes governistas da Bahia com a montagem da chapa majoritária que disputará as próximas eleições, porém, está completamente fora dos padrões costumeiros.

Senão, vejamos: quando tudo estava certo com a candidatura a governador do petista Jaques Wagner, eis que ele desiste, Rui Costa escala-se como candidato ao Senado e o senador Otto Alencar, do PSD, que estava pronto para disputar a reeleição é apontado como candidato ao governo. Essa nova formação teria ainda como candidato a vice um nome indicado pelo PP de João Leão, que também seria contemplado com nove meses à frente do governo para completar o mandato de Rui.

A mudança provocou um terremoto na banda governista. Parte do PT não aceitou Otto como candidato a governador. Os partidos à esquerda chiaram. O próprio Otto declinou da indicação e disse que não abriria mão de disputar a reeleição para o Senado. Leão, ficou quieto. Aparentemente sentiu-se aquinhoado com o mandato tampão de governador e a indicação do candidato a vice, além de outras pequenas compensações num futuro governo de Otto.

Mas, é como cantava Dorival Caymmi, obá de Xangô: “Se sabe que muda o tempo / Se sabe que o tempo vira”.

E o tempo virou: nesta segunda-feira, Wagner anunciou em entrevista, que Rui ficará no governo até o fim do mandato, Otto continuará candidato ao Senado, e a cabeça da chapa voltará ao PT, que escolherá o candidato a governador entre três nomes: Moema Gramacho, prefeita de Lauro de Freitas; Luiz Caetano, secretário estadual de Relações Institucionais; e Jerônimo Rodrigues, secretário de Educação do Estado.

João Leão, que tomou conhecimento dessa nova composição da chapa pela imprensa, não gostou nada e fez questão de demonstrar abertamente sua insatisfação. Sinal de que pode ocorrer nova mudança, inclusive porque ao menos um dos nomes que o PP pensava indicar para ser o candidato a vice já esperneou: só iria se Wagner fosse o candidato. Com o galego fora da disputa, ele também está fora.
Ou seja, o que começou como uma troca de posições na chapa majoritária, quase se transformou numa verdadeira Operação Tabajara –  por conta de uma série de manobras para tentar colocar Otto no Palácio de Ondina antes mesmo da eleição – e acabou se transformando num barata-voa. E não se sabe como vai acabar.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.

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