Na Bahia, estado onde mais se mata, a insegurança é igual para todos

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“A segurança é indivisível.

Ou existe igual segurança para todos

ou não há segurança para ninguém.”

(Mikhail Gorbatchov)

 

José Carlos Teixeira*

 

Morasse na Bahia, Mikhail Gorbachev, político e estadista russo, último líder da União Soviética (para cuja dissolução contribuiu ao promover uma abertura social, política e econômica no país durante seu governo, o que concorreu também para o fim da Guerra Fria e lhe valeu o Prêmio Nobel da Paz de 1990), certamente reescreveria a citação que abre este artigo.

É que, na Bahia, indivisível é a insegurança crescente, em que pese a intensa propaganda governamental que tenta, a todo custo – aliás, a custo elevadíssimo –, nos fazer crer que vivemos em uma terra “alcatifada de flores, onde a brisa fala amores, em lindas tardes de abril”, como na canção de Carlos Lira.

Aqui, não há segurança para ninguém. A insegurança é igual para todos. Ou seja, o pau que dá em Chico, dá em Francisco, para usar uma expressão popular. Cada vez mais a bandidagem ganha terreno, a criminalidade cresce e nesse avanço ninguém é poupado. Somos todos vítimas.

Imagine a gentil leitora que até mesmo o edifício onde mora o chefe de polícia, no Itaigara, bairro de classe média de Salvador, foi atacado duas vezes no intervalo de 15 dias. No primeiro caso, o ladrão pulou o muro e levou a bicicleta de um morador. No segundo, os assaltantes invadiram um apartamento e levaram dinheiro, joias e outros pertences dos moradores.

Não meu caro leitor, não foi agora. Foi em setembro do ano passado, quando algumas quadrilhas – já desarticuladas, segundo a polícia – andaram assaltando prédios de luxo da capital. Mas poderia ter sido agora, pois o número de roubos e assaltos, inclusive em áreas nobres da cidade, aumentou consideravelmente nos últimos meses em Salvador, como registrado diariamente pela imprensa.

Paralelamente ao avanço da criminalidade, cresceu o número de mortes violentas. Cada vez mais se mata na Bahia. Em 2021, pelo terceiro ano consecutivo, o Estado liderou o ranking do Mapa da Violência. Foram 5.099 mortes violentas (homicídios dolosos, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte) na Bahia – a segunda posição ficou com o Rio de Janeiro, com 3.394 casos, seguido de Pernambuco, com 3.370, e Ceará, com 3.300.

No caso das mortes violentas, porém, há uma clara divisão: os negros formam a população mais afetada. Em 2018, por exemplo, foram 5.427 homens negros mortos e 350 brancos, segundo a Rede de Observatórios da Segurança. A maioria dos mortos é formada por jovens negros do sexo masculino.

Por conta dessa nada honrosa posição, é inevitável que o avanço da criminalidade e o aumento da violência sejam questões de primeira ordem na campanha eleitoral – que já está em curso, não obstante, oficialmente, só deva começar em 16 de agosto.

O tema vem sendo repisado desde o ano passado, quando lançou sua pré-candidatura, pelo líder das pesquisas de intenção de votos, o oposicionista ACM Neto, do União Brasil (o novo partido resultante da fusão entre DEM e PSL). Segundo ele, a escalada da violência na Bahia começou no primeiro ano do governo do petista Jaques Wagner e não parou até agora. Neto vê no crescimento da violência um dos maiores pontos fracos das administrações do PT e não deixa de abordar a questão nos discursos que vem fazendo na sua peregrinação à cata de apoios pelo interior do Estado.

O governador Rui Costa, no entanto, argumenta que esse é um problema nacional, que não diz respeito apenas à Bahia. Segundo ele, cerca de 70% dos homicídios têm relação direta ou indireta com o comércio de drogas, que é comandado por facções que se articulam nacional e até internacionalmente. Faria sentido se ocorressem mais mortes nos estados onde o tráfico de drogas é acentuado. Mas não é o caso.

Na última terça-feira, porém, o governador encontrou um novo responsável pelo aumento da violência no Estado: o Poder Judiciário. Rui tirou o corpo fora, disse que a polícia faz seu papel, prendendo os criminosos, mas a Justiça os vem soltando quase imediatamente, sobretudo os mais perigosos, que têm dinheiro para contratar bons advogados.

Já a Polícia Militar anunciou uma novidade: em fevereiro passado o comandante da corporação reuniu a imprensa e apresentou o novo padrão de cores das viaturas policiais. Todos os veículos serão pintados com um tom de marrom, bem próximo às cores dos uniformes policiais. Agora vai.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.

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