Nem o avanço da covid-19 inibe os adeptos da puxação

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José Carlos Teixeira*

“Como El-Rei não gostasse de ovos,

correram todos a costurar

os cuzinhos das galinhas”

 

Divulgada no início desta semana pela rede de televisão ITV News, a notícia de que um grupo de pessoas se reuniu no famoso nº 10 da Downing Street, a residência oficial do primeiro ministro e sede do governo, para comemorar o aniversário de Boris Johnson fez aumentar a pressão para que ele renuncie e ponha um fim na crise que vem abalando o governo britânico há quase um mês.

É que o parabéns para Boris ocorreu em 18 de junho de 2020, em pleno período do lockdown imposto pelo governo para conter a disseminação da covid-19. As regras impostas à população na época proibiam a maioria dos encontros em ambientes fechados com mais de duas pessoas.

A crise começou quando a imprensa britânica denunciou a realização de uma festa na residência oficial do premiê, no Natal passado, quando o Reino Unido estava novamente sob confinamento total – o que impediu milhares de pessoas de se encontrar com familiares e amigos para as festas de fim de ano.

Boris negou, a princípio, mas acabou admitindo e pedindo perdão à rainha Elizabeth 2ª e ao Parlamento por seu comportamento, após ser confrontado com detalhes da festa natalina apurados pela imprensa – e com a revelação de que outros festejos ocorreram na residência oficial durante o confinamento, inclusive na véspera do funeral do príncipe Philip, em abril do ano passado.

O drama de Boris Johnson, pressionado pela opinião pública e acossado pela oposição e até mesmo por deputados de seu próprio partido, que lhe cobram a renúncia ao cargo, tem estado presente no noticiário da imprensa brasileira desde que a crise começou.

Os fatos que vêm abalando o governo britânico, contudo, parecem não ter chegado ao conhecimento dos áulicos que rondam o Palácio de Ondina, a residência oficial do governador da Bahia – ou, se chegaram, foram prontamente ignorados, por força dos ditames do mero puxa-saquismo.

Indiferentes à grave crise de saúde e sanitária vivida pelos baianos e ao avanço da ômicron, nova e mais contagiante variante do coronavírus, cuidaram de organizar uma festa surpresa no Palácio de Ondina para comemorar o aniversário do governador Rui Costa, que completava 59 anos no dia 18 passado. Coisa pequena: um jantar para umas 30 pessoas, com direito a show do cantor Jau.

Rui, que vinha de fazer uma série de recomendações aos baianos, para que evitassem até mesmo eventos fechados, ante o preocupante avanço da ômicron no Estado, percebeu a movimentação estranha na varanda e nos jardins do palácio. Informado sobre a surpresa que lhe preparavam, agradeceu a boa intenção, mas determinou que arriassem a lona do circo imediatamente, pois o momento não é para comemorações.

Os convidados – amigos e políticos mais próximos – foram desconvidados e, se comemoração houve, ficou restrita à família. Como convém, nesses tempos difíceis que atravessamos.

 

(Citado de memória, o texto que abre a coluna, cujo autor não consigo lembrar, é uma epígrafe do livro “O Puxa-saquismo ao Alcance de Todos”, de Nestor Holanda).

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.

 

 

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