Nova reprovação da Bahia no Ideb mantém o candidato governista nas cordas

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José Carlos Teixeira*

“O silêncio vale ouro

quando não se consegue 

achar uma boa resposta.”

(Muhammad Ali)

 

Foi como um boxeador encostado nas cordas, que mesmo golpeado insistentemente pelo adversário, seguia se defendendo e aguardando a hora certa para revidar, alvejando o oponente com uma combinação de socos capaz de virar a luta. Só que esse momento mágico chegou com o sinal trocado, na forma de um potente golpe que lhe acertou o queixo e fez com que o chão lhe faltasse.

Desde que foi jogado no meio do ringue da disputa pelo governo da Bahia, por obra e graça do governador Rui Costa e da ala esquerdista do PT (que havia negado apoio ao arranjo pelo qual o candidato seria Otto Alencar, do PSD), o agrônomo Jerônimo Rodrigues foi encostado às cordas por persistentes ataques dos adversários.

O motivo: as péssimas colocações da Bahia no ranking do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (o Ideb, que mede a qualidade do ensino no Brasil) referentes ao ensino médio, que é de responsabilidade do Governo do Estado, conforme dispositivo constitucional. Jerônimo, como se sabe, foi secretário da Educação do Estado de 1º de fevereiro de 2019 até 31 de março deste ano, quando deixou o cargo, desincompatibilizando-se para poder disputar a eleição.

É bem verdade que não se pode atribuir tão somente a ele a responsabilidade por um problema que vem se arrastando há vários anos (em 2017 e 2019 a rede estadual de ensino médio da Bahia ficou em último lugar no ranking). Mas não há como desvencilhá-lo do governo que ele representa, como candidato, e que vinha tentando inutilmente defender, quando questionado em entrevistas, sabatinas e debates com outros candidatos.

Sempre buscando culpados ali e acolá para a situação vexatória, Jerônimo primeiro atribuiu a baixa qualidade do ensino público estadual à má gestão de governos anteriores – aparentemente esquecido que seu partido, o PT, está a menos de quatro meses para completar 16 anos no poder. Depois alegou que são problemas estruturais que exigem de 25 a 30 anos para serem superados. Finalmente atribuiu a culpa aos prefeitos, com o falso argumento de que o ensino na fase inicial do fundamental, a cargo das prefeituras, é ruim e os alunos chegam ao ensino médio despreparados e não conseguem avançar.

Defendendo-se, explicava que havia melhoras, sim, senhor, e que isso ficaria evidente quando novos dados do Ideb fossem divulgados. Ou seja, preso nas cordas, atacado incessantemente pela oposição, aguardava o momento de reagir, de mostrar que seu trabalho à frente da Secretaria da Educação rendera bons frutos, de modo a virar o jogo a seu favor.

Na última sexta-feira, o Ideb divulgou o relatório referente a 2021. Não deu para Jerônimo reagir e virar o jogo. Pelo contrário, recebeu um golpe mais forte. Os dados mostram que a Bahia continua nos últimos lugares entre as 27 unidades da federação. Recebeu a nota 3,5 e ficou na quarta pior posição, à frente apenas de Amapá (3,1), Pará (3,0) e Rio Grande do Norte (2,8).

Mas quando se avalia a proficiência em matemática e português, ou seja, o grau de aprendizagem dessas duas disciplinas pelos alunos, a Bahia, que tinha nota 4,1 e ocupava a 22ª posição em 2019, caiu para a 26ª posição no ano passado, com a nota 3,96, à frente apenas do Maranhão.

O curioso é que apesar da queda no nível de aprendizagem dessas duas importantes disciplinas em 2021, o índice de aprovação nas escolas da rede estadual do ensino média saltou de 77,5% para 87,4% no ano passado. Ou seja, os alunos aprenderam menos, mas, mesmo assim, maior número deles foi aprovado.

Não dá para entender. A não ser que tenha havido orientação para vitaminar a aprovação, de modo a aumentar, artificialmente, a nota do Ideb, que é calculada a partir de dois componentes: a taxa de rendimento escolar (aprovação) e as médias de desempenho nos exames padronizados aplicados pelo Inep. Vá-se lá saber.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador.

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