O certo e o errado na arte de fazer política, segundo Rui Costa, Ulysses e o Rei Faiçal

foto texeira nova

José Carlos Teixeira*

 

“Sei que preciso aprender

Quero viver pra saber

E conhecer Brasília”

(Brasília, de Sérgio Sampaio)

Definitivamente, o petista baiano Rui Costa, ministro-chefe da Casa Civil do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não conhece Brasília. Nem a cidade, nem o que ela representa como núcleo do poder da República. Conhecesse e não diria o que disse na sexta-feira, 2, em evento na cidade de Itaberaba, no interior da Bahia, distante 1.180 quilômetros da Capital Federal.

“Brasília é difícil. É difícil porque lá fazer o certo, para muitos, está errado. E fazer o errado, para muitos, é que é o certo na cabeça deles”, professorou o ministro, em discurso na inauguração de um hospital regional.

Foi um claro, direto, certeiro recado aos parlamentares aglutinados no Centrão, que têm infligido seguidas derrotas ao governo, em votações na Câmara dos Deputados, situação que abriu uma grave crise na articulação (ou na falta de articulação, para ser mais exato) do Planalto com o Congresso. Nesta equação de Rui, ele é o certo e os deputados são os errados.

Rui já foi hóspede de Brasília na condição de deputado federal. Eleito em 2010, tomou posse em 2011 e licenciou-se no ano seguinte para assumir a chefia da Casa Civil no segundo mandato de Jaques Wagner.

Na prática, foi deputado por apenas um ano – e esse tempo não foi suficiente para ele apreender que na Câmara não tem bobo, pois todos se elegeram, como costumava dizer Ulysses Guimarães (1916/1992).

“Bobo é quem perdeu a eleição e ficou de fora”, acrescentava o saudoso Ulysses, com a experiência de quem foi deputado federal por 11 mandatos consecutivos, de 1951 a 1995, e elegeu-se presidente da Câmara por três vezes.

Durante o fim de semana, enquanto a oposição se divertia, políticos governistas e alguns não tanto se movimentaram para pôr água na fervura e evitar que as declarações do ministro azedassem mais ainda o ambiente em Brasília. Exatamente no momento em que o próprio Lula faz o possível para baixar a bola e contornar a crise na relação do governo com a Câmara dos Deputados.

No discurso, o ministro da Casa Civil ainda chamou Brasília de Ilha da Fantasia que faz “muito mal ao Brasil” e relatou uma reunião ocorrida na véspera, quando disse aos participantes que teria sido melhor manter a sede dos Poderes no Rio de Janeiro, ou levar para São Paulo, Minas Gerais ou mesmo de volta para a Bahia, para que as pessoas se deparassem com a fome, a miséria e o desemprego antes de entrar na Câmara e no Senado.

“Vocês podem ter certeza: Brasília não vai me mudar e eu vou lutar com todas as minhas forças para mudar Brasília”, jactou-se Rui, no melhor estilo eu-contra-o-mundo – uma evolução do estilo tipo trator com o qual governou a Bahia durante oito anos, tratando deputados, prefeitos e outras lideranças na base do eu mando e vocês obedecem.

Voltemos a Ulysses Guimarães: em uma longa entrevista a Fernando Morais em 1979, publicada na extinta revista Status, ele aconselhou os aprendizes de políticos a cultivarem a paciência e a arte de escutar. Contou que o Rei Faiçal da Arábia Saudita dizia que Deus deu ao homem dois ouvidos e uma só boca para ouvir o dobro e falar a metade.
No mundo de Brasília, Ulysses era um mestre! Rui promete, mas é ainda um aprendiz.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador.

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