O sonho de Zé Neto e as dificuldades para criar uma federação partidária

foto texeira nova

José Carlos Teixeira*

“Triunfam aqueles que sabem

quando lutar e quando esperar”

(Sun Tzu, A Arte da Guerra)

Sextou! Comecemos pois o dia rindo. Até mesmo porque hoje é também véspera de Carnaval – embora, este ano, o reino de Momo seja restrito a festas pagas em espaços fechados. Indoor, como dizem os moderninhos, desprezando o viço agreste da última flor do Lácio, inculta e bela.

Circula uma anedota entre os jornalistas de Feira de Santana segundo a qual um dos netos de Colbert Martins, o atual prefeito, será candidato à prefeitura nas eleições municipais de 2052. Até aí, tudo certo, o jovem estará apenas seguindo uma tradição familiar.

As risadas vêm quando se descobre quem ele vai enfrentar nas urnas: ninguém menos que o deputado federal petista Zé Neto, em sua décima terceira tentativa de chegar à prefeitura.

Anedota à parte, a obstinação com que Zé Neto busca ser prefeito de sua cidade natal é motivo de preocupação, hoje, para dois políticos que igualmente desejam um dia subir as escadas do Paço Municipal da maior cidade do interior da Bahia: o deputado estadual Ângelo Almeida e o ex-vereador Beto Tourinho, ambos filiados ao PSB.

Explica-se: caso vingue a constituição de uma federação partidária reunindo PT, PSB, PCdoB e PV, cujas negociações estão em pleno andamento, esses quatro partidos deverão continuar juntos por pelo menos quatro anos, conforme determina a legislação que criou esta inovação eleitoral.

Isso significaria que, em 2024, nas eleições municipais, os quatro partidos terão que apresentar um candidato único à sucessão do prefeito Colbert Martins.

A preocupação de Ângelo e Tourinho é porque todos já sabem de antemão quem será esse candidato. É óbvio: Zé Neto não abrirá mão de sua sexta tentativa de chegar à prefeitura em 2024 – nem da sétima, nem da oitava, nem…

Acostumado a tratorar as demais lideranças locais do PT, podando-lhes o crescimento na máquina partidária – o que levou muitas delas a se afastarem da militância ou mesmo a abandonarem o partido –, é de se presumir que Zé Neto passará igualmente o trator por cima das pretensões de Ângelo, de Tourinho, ou de qualquer outro que fique no caminho do seu persistente desejo de ser prefeito de Feira.

A Tourinho e Ângelo, só restará um caminho, caso pretendam disputar as próximas eleições municipais: trocar de partido, filiando-se a uma legenda fora da federação, caso ela seja mesmo instituída.

As preocupações sobre o cenário nas eleições municipais de 2024, como este que se apresenta em Feira de Santana, não são os únicos empecilhos à oficialização da federação, mas ganham importância ao se considerar que estão presentes desde agora na maioria dos 5.568 municípios brasileiros.

Há também as divergências a respeito da composição do órgão que comandará a federação e, sobretudo, a questão das candidaturas a governador nas eleições de outubro próximo, em alguns estados onde PT e PSB têm candidatos competitivos.

O maior nó está em São Paulo. Lá, o PT está decidido a manter a candidatura a governador do ex-prefeito Fernando Haddad. Só que o ex-governador Márcio França não abre mão de ser candidato pelo PSB. É senso comum entre políticos dos dois partidos que, sem resolver essa questão, a federação tende a não sair do papel.

O prazo para a oficialização das federações foi estendido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) até 31 de maio. Até lá, acredita-se, a questão da disputa paulista deverá estar resolvida. O mesmo vale para a disputa dos governos do Espírito Santo e do Rio Grande do Sul, onde também há um impasse.

Já os conflitos menores, no âmbito dos municípios, envolvendo a escolha dos candidatos a prefeito nas próximas eleições, terão um prazo maior para serem resolvidos: 31 de maio de 2024. Exceto em Feira de Santana, pois lá a situação já está definida de antemão: é Zé Neto e ninguém tasca!

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.

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