José Carlos Teixeira*
“Pense num absurdo, na Bahia tem precedente”.
(Otávio Mangabeira, ex-governador da Bahia)
Não há nenhuma novidade na arquitetura da Operação Tabajara concebida pelo governador Rui Costa e proposta a seus pares do triunvirato partidário que domina o governo baiano, com o objetivo de eleger o senador Otto Alencar para um mandato tampão de nove meses, de modo a que ele viesse a disputar a eleição de governador já sentado na cadeira principal do Palácio de Ondina.
Isso, considerando-se que Jaques Wagner, como Rui sonha e deseja, abriria mão da candidatura ao governo do Estado em favor de Otto – hipótese que foi imediatamente descartada pelo senador petista e refugada por boa parte das lideranças do PT, que não veem porque o partido deveria abrir mão do governo para o PSD.
Mas vamos relembrar a luminosa ideia. Seria assim: o governador Rui Costa e o vice-governador João Leão renunciariam no mesmo dia, em abril, para serem ambos candidatos ao Senado. Rui com a parte do leão, naturalmente. Ou seja, como titular, deixando para o companheiro o posto de primeiro suplente.
Com isso, assumiria o governo o presidente da Assembleia, deputado Adolfo Menezes, do PSD, que também renunciaria.
O próximo na linha de sucessão seria o presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Nilson Soares Castelo Branco, que assumiria interinamente até a eleição de um novo governador pela Assembleia Legislativa.
Como os governistas são maioria, indicariam e elegeriam Otto, de modo a que ele pudesse disputar a reeleição, em outubro, já aboletado no cargo de governador.
Simples, assim.
Mas não é nenhuma novidade, dizia eu. Na Bahia, sempre há precedente.
Manobra semelhante ocorreu em 1994, quando o governador Antonio Carlos Magalhães e o vice-governador Paulo Souto renunciaram aos cargos faltando um minuto para a meia-noite do último dia para a desincompatibilização dos candidatos à eleição daquele ano – ACM foi candidato a senador e Souto a governador, ambos eleitos.
Com a renúncia dos dois, o próximo na linha sucessória era o deputado Antônio Imbassahy, presidente da Assembleia Legislativa. Imbassahy, no entanto, se recusou a assumir o cargo de governador, alegando que preferia continuar deputado e candidato à reeleição.
Caso assumisse, mesmo que interinamente, até a eleição de alguém pela Assembleia para cumprir o restante do mandato, ficaria inelegível. E esse alguém não era ele. ACM queria Raimundo Brito, então secretário estadual de Minas e Energia, no cargo de governador-tampão.
Com a recusa de Imbassahy, o presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Ruy Trindade, assumiu o cargo, convocou a eleição indireta do governador-tampão e aproveitou seus dias de glória: reuniu uma grande comitiva, mobilizou seis aviões e foi visitar sua cidade natal, Paripiranga, a 366 quilômetros da capital, com toda pompa e mordomia de chefe de estado.
Raimundo Brito, no entanto, teve sua candidatura impugnada pela bancada oposicionista na Assembleia. Ele não havia deixado o cargo de secretário, desincompatibilizando-se. Os governistas insistiram e o caso foi bater no Supremo Tribunal Federal, que deu ganhou de causa à oposição. Brito acabou substituído por Imbassahy.
A oposição chegou a anunciar que iria bater chapa. Apresentou como como candidato o deputado Calmito Fagundes, mas de última hora amarelou. Foi uma sessão tumultuada, com acusações de parte a parte e denúncias de compra de votos e de votos marcados. Liderados por Coriolano Sales, os deputados da oposição abandonaram o plenário prometendo recorrer à Justiça para anular a sessão. Não deu em nada. E Imbassahy tornou-se governador.
Foi assim. E deu quase tudo certo.
A diferença é que Antonio Carlos Magalhães mandava, desmandava e era obedecido, como sabem muito bem Otto Alencar e outros ex-carlistas menos votados que hoje gravitam em torno do PT. Eles têm memória.
*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.