Pesquisa eleitoral boa e de confiança só aquela que favorece nosso candidato

teixeira foto nova

José Carlos Teixeira*

“Consta nos astros, nos signos, nos búzios
Eu li num anúncio, eu vi no espelho
Tá lá no evangelho, garantem os orixás.”

(Dueto, de Chico Buarque)

 

Funciona assim: se os números estiverem bons para a gente, a pesquisa é verdadeira, crível e merecedora da nossa confiança. Cuidemos, pois, de propagandear os seus resultados. Vislumbra-se neles a certeza da vitória escrita nos astros, nas profecias, e nos pedidos e promessas feitos aos santos e orixás.

Mas se, pelo contrário, os números nos forem ruins, a pesquisa é falsa, mentirosa e não merece crédito algum. Tratemos, portanto, de desqualificá-la e à empresa que a realizou – e, de lambuja, cuidando também de acusar quem a divulgou de espalhar fake news, para usar a expressão da moda, e enganar o eleitor.

Na maioria das vezes, é assim: o candidato beneficiado pelos números faz um carnaval. Bate bumbo e solta foguetes. Os demais reclamam e garantem possuir pesquisas de uso interno (não registradas na Justiça Eleitoral e, portanto, de divulgação proibida) que apontam o contrário.

Os interesses contrariados explicam a existência de pelo menos uma centena de projetos na Câmara dos Deputados propondo a proibição das pesquisas eleitorais. São iniciativas de parlamentares de mau humor com levantamentos que não o favoreceram pessoalmente ou a seu grupo político. Passada a eleição, tais projetos não têm andamento e permanecem esquecidos em uma gaveta qualquer.

Algumas vezes, porém, os números de uma mesma pesquisa conseguem a proeza de servir a dois ou mais senhores. São bem recebidos pelos oponentes que cuidam, cada qual a seu modo, de deles extrair dividendos capazes de entusiasmar seus partidários, despertar o interesse dos indecisos ou até mesmo reverter os votos de eleitores já decididos.

Diz-se que, torturados, os números de uma pesquisa confessam qualquer coisa. Se assim o é, cuidam de pendurá-los no pau de arara. Algumas vezes, tal maldade não é necessária. Basta apenas trazer à luz os elementos que o adversário cuidou de esconder.

Vejamos o caso da pesquisa DataFolha sobre a eleição para governador na Bahia, encomendada pela Rádio Metrópole e divulgada na quarta-feira passada, 21. O levantamento estimulado mostrou que o candidato da situação, o petista Jerônimo Rodrigues, continua crescendo. Está com 31% das intenções de voto, 3 pontos percentuais a mais que o registrado na pesquisa anterior, divulgada uma semana antes. Já o oposicionista ACM Neto, do União Brasil, segue na liderança, com 48%, mas caiu 1 ponto, na comparação com a pesquisa anterior. O bolsonarista João Roma, do PL, cresceu 1 ponto percentual e está agora com 8%.

Todos os três oscilaram dentro da margem de erro de 3%, mas o resultado obtido por Jerônimo foi saudado com entusiasmo dentro das hostes governistas. Afinal, ele manteve o viés de crescimento, enquanto o líder da pesquisa sofreu uma pequena queda. A propaganda do petista celebrou: “Jerônimo segue crescendo e vai ganhar no primeiro turno”, profetizaram na mídia e nas redes sociais.

Por seu turno, mesmo oscilando um ponto percentual para baixo, o líder das pesquisas optou por usar apenas os votos válidos – quando são descartados os brancos e os nulos, como faz a Justiça Eleitoral na apuração do resultado do pleito. Considerando apenas os válidos, ACM Neto está com 55% das intenções de voto e o segundo colocado, Jerônimo, soma apenas 35%.  “ACM Neto vence no primeiro turno”, cuidou de propagandear no rádio, na tv e nas redes sociais.

Considerando esses números, para vencer no primeiro turno Jerônimo precisa conquistar algo em torno de 100 mil votos por dia e fazer com que ACM Neto perca a mesma quantidade diária de eleitores, já que estamos a apenas nove dias da eleição.

Mas, é sempre bom frisar, pesquisa é fotografia e eleição é filme. Uma é presa ao momento em que foi realizada, a outra está sempre em movimento.

Até o dia da eleição teremos novas pesquisas, ou seja, novos retratos. E como evento capaz de provocar fato político e alterar a velocidade do movimento, para um lado ou para o outro, o debate entre os candidatos na TV Bahia, marcado para a próxima terça-feira, 27. Até lá.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.

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