Petrobras reduz preço da gasolina e perde R$ 21 bi em valor de mercado na Bolsa

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Um dia depois da volta da cobrança integral de impostos federais (PIS/Cofins e Cide) sobre a gasolina, a Petrobras anunciou ontem nova redução no preço do combustível. O corte, o quinto desde o início do ano e o terceiro desde que a nova política de preços foi divulgada, é de R$ 0,14 por litro, ou 5,3% no preço médio de venda para as distribuidoras.

Com a medida, válida a partir de hoje, o valor do litro que sai das refinarias da estatal passará a ser de R$ 2,52 por litro. O anúncio foi mal recebido no mercado, e as ações com voto (ON) da estatal recuaram 5,13%, negociadas a R$ 33,10. Foi a maior queda desde 2 de janeiro. Na avaliação dos analistas, a decisão da Petrobras busca compensar a reoneração integral de impostos.

Em um único pregão, a empresa perdeu R$ 21,7 bilhões em valor de mercado e agora vale R$ 411,77 bilhões. Na avaliação de Sérgio Araújo, presidente executivo da Abicom (associação dos importadores), a redução no preço da gasolina não é justificável do ponto de vista técnico.
Nos cálculos da Abicom, o preço médio da gasolina praticado pela estatal já estava R$ 0,34 abaixo do preço de paridade internacional (PPI). Sob essa ótica, a expectativa seria de aumento:

— Tudo leva a crer que foi uma ação da Petrobras visando reduzir o impacto do aumento da carga tributária, uma vez que houve a volta dos tributos PIS/Cofins e Cide.

Teste da nova política
Desde 16 de maio, a Petrobras adota uma nova política de preços e não mais a paridade internacional. Ainda assim, analistas ainda levam em conta a referência do PPI, pois argumentam que alguns dos fatores incluídos na nova metodologia da empresa são de difícil mensuração.

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Pedro Rodrigues, sócio do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), avalia que, do ponto de vista técnico, não havia espaço para redução, mas pondera que o anúncio ocorre sob uma nova política de preços e que os analistas ainda consideram difícil definir o que a companhia está levando em conta em seu processo de tomada de decisão.

— Parece ser uma medida populista para tentar segurar o aumento do PIS/Cofins, que foi reonerado. Como a nova política de preços é nada transparente e previsível, a Petrobras provavelmente vai dar uma roupagem técnica. Mas só ela consegue fazer a conta, as variáveis são incalculáveis. Na nova fórmula, existe espaço para tudo, a qualquer momento e a qualquer minuto — afirmou.

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Segundo o Ministério da Fazenda, a volta da cobrança integral de impostos federais sobre a gasolina teria impacto de R$ 0,71 por litro de gasolina e R$ 0,24 para o etanol.

Os papéis da Petrobras recuaram mesmo em um dia de alta do preço do petróleo. O barril do Brent subiu 0,75%, a US$ 74. Desde o início do pregão, os papéis operavam em baixa, mas a queda se intensificou após o anúncio. A empresa também reduziu o GLP, o gás de botijão, em 3,9%, o equivalente a R$ 0,10 por quilo.

Para o analista de Research da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman, as ações caem com a constatação, por parte do mercado, de que o movimento pode ter um caráter mais compensatório do que técnico:

— O anúncio de uma nova redução parece que é uma medida para que se compense o aumento iminente de preços que poderia haver na bomba. Parece-nos que foi mais para acobertar a reoneração integral do que um movimento técnico.

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O analista de commodities da Mantaro Capital, Pedro Acioli, avalia que o corte da gasolina aumenta a percepção de risco da nova política de preços da companhia. Em relatório, analistas do Goldman Sachs avaliam a notícia como negativa para empresa. Segundo eles, o anúncio “pode levar os investidores a ficarem preocupados com uma possível pressão política sobre a empresa em relação à política de preços de combustíveis e riscos de subsídios aos preços dos combustíveis.”

Nas últimas semanas, os ativos da estatal vinham apresentando forte desempenho, em linha com a melhora de percepção de analistas sobre a gestão da empresa. Bancos estrangeiros, por exemplos, chegaram a retomar a recomendação de compra para o ativo. No começo da semana, a Petrobras levantou US$ 1,25 bilhão com uma emissão de papéis.

Impacto menor na inflação
Em relatório, analistas do Itaú BBA destacam que o novo preço de R$ 2,52 bate com as estimativas do banco para a faixa de preço considerada na nova estratégia comercial da companhia. “Isso reforça nosso entendimento de que a companhia pode estar explorando o limite inferior da atual faixa de preço da gasolina desde o primeiro dia da atual nova estratégia comercial, conforme nossas estimativas”, afirmam os analistas do banco. O Itaú BBA destaca que o corte compensará parcialmente a devolução dos tributos federais sobre a gasolina.

A redução de preços da Petrobras também vai atenuar o impacto da reoneração na inflação. Alexandre Maluf, economista da XP, projetava alta de 3% da gasolina em julho, com a cobrança integral dos impostos. Com o anúncio da Petrobras, a alta será somente de 0,13%. Para o IPCA, índice oficial de inflação, fechado de julho, a expectativa da XP é de deflação de 0,11%.

— O saldo disso, diante de todos esses efeitos, ainda é de uma alta no preço na bomba.

Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Rena, projeta que a gasolina suba entre 2% e 2,5% este mês:

— Continuamos com inflação de 4,8% para 2023.

 

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