PT finge ignorar, mas malas de dinheiro de Geddel ainda estão no imaginário popular

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José Carlos Teixeira*

 

Houve um quê da mais pura chanchada na cerimônia que reuniu próceres do grupo político governista na sede do MDB baiano, na quarta-feira, 30, quando foram anunciados a adesão do partido à candidatura do petista Jerônimo Rodrigues a governador e o nome do vereador emedebista Geraldo Júnior, presidente da Câmara de Salvador, como candidato a vice.

Foi quando, ao iniciar seu discurso, Geraldo perguntou à plateia:

– Geddel está aí? Cadê ele? Chame ele aí.

– Saiu – alguém respondeu.

Foi como se, em um casamento, antes de dizer que aceitava o noivo como marido, a noiva perguntasse pelo pai e fosse informada que ele largara a cerimônia no meio e saíra à francesa.

Deu para perceber o climão. Mas, como todos estavam usando máscaras, não deu para notar o constrangimento estampado no rosto de muitos dos que participavam da cerimônia.

Condenado a 14 anos e 10 meses de prisão pelos crimes de lavagem de dinheiro e associação criminosa no caso das malas com cerca de R$ 51 milhões encontradas pela Polícia Federal em um apartamento no bairro da Graça, em Salvador, Geddel está em liberdade condicional.

Mesmo desligado da direção da estadual, após sua prisão, em julho de 2017, ele ainda mantém sua influência nas decisões do partido e participou ativamente das conversas que resultaram na adesão do MDB à base governista.

Na quarta-feira, Geddel circulou discretamente, trocou cumprimentos com vários políticos, mas optou por deixar o local quando a solenidade começou. Fora da sala, quando esperava o elevador, foi abordado por um jornalista, mas não quis fazer comentários sobre a nova aliança política. “Não sou político. Sou apenas um curioso”, disse.

O laconismo de Geddel e sua discreta participação na cerimônia, no entanto, não serão suficientes para afastar uma enorme assombração que ele encosta à campanha eleitoral de Jerônimo Rodrigues: o fantasma representado por uma fotografia que mostra oito enormes malas e seis caixas de papelão abarrotadas de cédulas de R$ 100 e de R$ 50, encontradas pela Polícia Federal.

A fotografia foi publicada nos principais jornais do país, mostrada na televisão, circulou intensamente pela internet e se transformou no mais forte ícone dos resultados das operações de combate à corrupção desencadeadas pela Operação Lava Jato em todo o país.

Não é uma imagem fácil de esquecer.

A questão é que, ao se aproximar dos responsáveis pelas malas, o PT baiano entra pela contramão e de alguma forma coloca na roda um tema que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deseja ver longe de sua campanha eleitoral: as operações da Lava Jato.

Não foi sem razão que, em janeiro passado, em conversa com integrantes da bancada do PT na Câmara, Lula pediu que o partido desistisse da ideia de instaurar uma CPI para investigar a atuação do ex-juiz Sergio Moro como contratado da consultoria americana Alvarez & Marsal.

É que a CPI inevitavelmente iria relembrar a Lava Jato e colocar na mídia novamente as operações que atingiram diretamente integrantes da direção do partido – ou seja, tudo o que o presidente Jair Bolsonaro quer. Acabaria sendo um tiro no pé.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.

 

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