Rui Costa quer ser senador, mas não consegue combinar com os russos

foto texeira nova

José Carlos Teixeira*

 

A história é por demais conhecida. Mas não custa relembrá-la. Foi em 1958, durante a Copa do Mundo. Horas antes do jogo contra a União Soviética, o técnico da Seleção Brasileira, Vicente Feola, reuniu a equipe para as últimas instruções e orientou o que considerava uma jogada matadora: enquanto Zito e Didi trocavam passes no meio do campo, Vavá partiria em disparada para o lado esquerdo, atraindo a defesa russa; só que o lançamento seria feito para direita, em direção a Garrincha, que driblaria o zagueiro e entregaria a bola redondinha para Pelé fazer o gol.

– Tudo bem? Todos entenderam? – perguntou Feola.

– Entendi, seu Feola. Mas o senhor já combinou tudo isso com os russos? – indagou Garrincha, em sua santa ingenuidade.

A lição ficou. Hoje é senso comum que é preciso sempre combinar previamente com os russos – os quais, evidentemente, nem sempre concordam com a combinação proposta.

Senão, vejamos. O governador Rui Costa não quer ficar sem mandato – e sem foro privilegiado, of course – após entregar o cargo, em janeiro próximo, e comunicou ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seu desejo de ser o candidato a senador na chapa governista que disputará as eleições de outubro.

Lula gostou da ideia. Convicto de que será o próximo presidente da República, ele vem defendendo que o PT dê prioridade à formação de uma base parlamentar forte. Mesmo que isso signifique abrir mão de candidaturas a governador em favor de partidos aliados. Teme ficar refém do próximo Congresso, como ocorre hoje com o presidente Jair Bolsonaro em relação ao Centrão.

Mas faltava combinar o jogo com os russos. Foi o que se tentou na quarta-feira passada, em São Paulo, durante um encontro que reuniu Lula, Rui, os senadores Jaques Wagner e Otto Alencar, o vice-governador João Leão e a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann.

A combinação seria a seguinte: o senador Jaques Wagner, virtual candidato à sucessão de Rui, retiraria sua candidatura, abrindo espaço para o também senador Otto Alencar, do PSD, ser o candidato a governador do grupo.

Rui renunciaria ao cargo em abril, desincompatibilizando-se para ser o candidato a senador, no lugar de Otto. Com isso, o vice-governador João Leão, do PP, ganharia nove meses de mandato como titular, realizando seu sonho de encerrar a carreira política como chefe do Executivo baiano, e ainda indicaria o candidato a vice na chapa.

Tudo bonitinho e com um benéfico efeito colateral: o fato de o PT baiano abrir mão da indicação do candidato a governador em favor de Otto adoçaria a boca de Gilberto Kassab, o presidente nacional do PSD, partido cujo apoio Lula deseja e vem tentando obter, como reforço fundamental em busca de uma vitória logo no primeiro turno.

Não deu certo. Os russos não aceitaram a combinação.

Wagner saiu da reunião dizendo que continua candidato a governador – e recebeu o apoio, em declarações à imprensa, de petistas de diversos calibres do campo mais à esquerda do partido, que não admitem outra conformação para a chapa que não seja com alguém do PT na cabeça.

Otto, por sua vez, vendo a resistência de Wagner, disse que não queria ser candidato a governador. Reafirmou o desejo de renovar seu mandato no Senado e ratificou seu apoio à candidatura do amigo petista.

Já Leão, esse até que aceita a retirada do nome de Wagner, mas desde que o candidato ao governo seja ele. Também aceita a candidatura de Otto a governador, mas desde que ele seja o candidato a senador, sua segunda opção. Enfim, é Leão sendo Leão.

Em um último esforço para convencer Otto a aceitar ser o candidato a governador, Rui propôs colocá-lo já à frente do governo e na condição de candidato à reeleição. Para tanto, porém, seria preciso fazer a bola circular pelos pés de um maior número de jogadores antes do tiro a gol.

Seria assim: Rui e Leão, seu sucessor imediato, renunciariam no mesmo dia, em abril. Com isso, assumiria o governo o presidente da Assembleia, deputado Adolfo Menezes, do PSD, que também renunciaria. O próximo na linha de sucessão seria o presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Nilson Soares Castelo Branco, que assumiria interinamente até a eleição de um novo governador pela Assembleia.

O candidato governista – sim, porque a oposição também poderia apresentar o seu – nesta eleição indireta seria Otto. Eleito, seria candidato à reeleição, sem precisar deixar o cargo de governador.

Tal combinação, evidentemente, não foi adiante. Com tantos russos para combinar, qualquer falha poderia ser fatal. Além disso, trazia em seu bojo uma certa astúcia: reeleito em outubro, Otto não mais poderia ser candidato em 2026, deixando o caminho livre para Rui, quem sabe, tentar retornar ao Palácio de Ondina.

O governador Rui Costa anunciou, nesta quinta-feira, um novo prazo para anunciar a chapa governista: 13 de março. Até lá, aceitam-se sugestões de novas combinações. Vale tudo, exceto aquilo que a lei proíbe.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.

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