Rui quer um mandato pra chamar de seu

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O governador Rui Costa gostaria muito de entrar em 2023 pilotando um mandato novinho em folha. Senador, de preferência. Mas se for deputado federal, ele também aceita. No início, era apenas um desejo. Hoje, é uma necessidade. Político algum fica feliz sem um mandato pra chamar de seu.

Morador do Palácio de Ondina há sete anos, Rui é, por força do cargo, o líder maior do Partido dos Trabalhadores na Bahia. Posição transitória que poderá devolver a seu antecessor no cargo, caso o companheiro Jaques Wagner seja eleito para um terceiro mandato de governador.

Mas não bastam só a vontade do líder e o fato de ele ter na mão uma caneta cheia de tinta – para usar uma imagem à qual o deputado Marcelo Nilo sempre recorre para dizer que governador tem poder porque nomeia e libera verba, ou seja, manda e desmanda.

Senador é difícil. A vaga já tem dono e ninguém tasca: é de Otto Alencar, do PSD, que deverá disputar a reeleição.

A Rui restaria disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados. Seria certamente o candidato a deputado mais votado da Bahia. Sua grande votação seria um alento para a reeleição dos seis deputados petistas, hoje preocupados com a possibilidade de o partido perder uma cadeira.

Para ser candidato, Rui teria que passar o cargo ao vice-governador João Leão, do PP, em abril do próximo ano. Leão ganharia um mandato de nove meses e realizaria seu sonho de encerrar a carreira como governador da Bahia – transferindo então a totalidade do seu cabedal político-eleitoral para o filho, o deputado federal Cacá Leão.

Essa articulação seria ideal para acomodar os três principais partidos da base do governo na chapa majoritária: o PT, com Wagner candidato a governador; o PSD, com Otto disputando a reeleição para o Senado; e o PP contemplado com o curto mandato de Leão e a indicação do candidato a vice-governador.

Só que não. Há algumas variáveis a serem consideradas, a começar pelo desejo de Wagner de ter Rui Costa comandando a campanha na qualidade de governador – como ele próprio fez em 2014, quando permaneceu no cargo até o fim para garantir a eleição de Rui, o candidato que tirou do bolso do colete e fez prevalecer.

Há também uma reação grande entre os petistas mais ortodoxos à entrega do governo estadual a João Leão, às vésperas de uma eleição decisiva para o partido, considerando-se, inclusive, a candidatura de Lula a presidente da República. O PP, partido de Leão, não esqueçamos, no plano nacional é apoiador da candidatura de Jair Bolsonaro.

E, por último, mas não menos importante, há o veto de Otto Alencar. A questão aqui é a eleição dos deputados estaduais e federais. Nesta eleição, a oposição terá um candidato a governador competitivo. Isso significa que a oposição aumentará suas bancadas na Câmara e na Assembleia. Ora, se a oposição ganha mais cadeiras, o governo perde na mesma proporção.

A questão: com Rui na chapa de deputados, o PT não só deverá manter como poderá aumentar sua bancada federal. Com Leão sentado na cadeira principal da Governadoria, o PP certamente vai manobrar e conquistar mais cadeiras. Nessa aritmética, deve sobrar para o PSD. Daí a resistência de Otto Alencar.

Mas ainda há tempo para rearrumar as peças no tabuleiro. Esse nó só começará a desatar em março, quando o quadro político clarear mais um pouco.

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.

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