Como fez o Barão de Itararé, há quase um século, jornalistas baianos pedem: entre sem bater

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José Carlos Teixeira*

 

“Entre sem bater
Entre
Entre sem bater em mim”

(Entre sem bater, de Rita Lee)

 

Hoje, 7 de abril, é o Dia do Jornalista. A data foi instituída pela ABI (Associação Brasileira de Imprensa) em 1931, época em que o jornalista Fernando Apparício de Brinkerhoff Torelly – que ficaria mais conhecido como Barão de Itararé, título de nobreza que ele se autoconcedeu – já terçava armas com políticos e outros poderosos, sempre usando a mais contundente das armas à sua disposição e que ele dominou como poucos: o humor.

Quando a data que homenageia os profissionais jornalistas foi criada, o Barão já acumulava várias prisões e um sem número de agressões de todo tipo por conta de sua irreverência e da mordacidade de seus escritos. Começou em O Globo, passou para o A Manhã e, posto para fora, tratou de fundar seu próprio jornal, cujo título já era uma vingança contra o ex-patrão: A Manha.

Em 1934, criou também o Jornal do Povo, que circulou por apenas dez dias, período em que publicou em fascículos a história do marinheiro João Cândido, conhecido como o “Almirante Negro”, que havia liderado a Revolta da Chibata (1910), movimento contra o uso da chibata como castigo na Marinha brasileira. Sequestrado e espancado, supostamente por oficiais da Marinha em represália à publicação, ao voltar à redação colocou uma placa na porta onde se lia: “Entre sem bater”.

A frase do Barão de Itararé, cujo espírito humorístico camufla uma reação, volta e meia é retomada pelos jornalistas brasileiros, sempre que passam a enfrentar, como agora, uma onda crescente de violência contra a categoria.

Nos últimos anos, os ataques aos profissionais de jornalismo vêm aumentando gradativamente, muitas vezes acobertados pelas autoridades que os deveriam combater, quando não estimuladas ou mesmo por elas cometidos.

Divulgado no final do mês passado pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), o relatório “Monitoramento de ataques a jornalistas no Brasil” revela que em 2022 os ataques contra jornalistas somaram 557 episódios, um crescimento de 23%, na comparação com o ano anterior, quando ocorreram 453 casos.

O levantamento contabiliza desde agressões verbais e físicas feitas diretamente a profissionais aos chamados discursos estigmatizantes, que buscam descredibilizar o trabalho jornalístico, com a intenção de desmoralizar jornalistas e a própria imprensa.

Na Bahia, pelo menos 14 jornalistas foram vítimas de violência física no exercício da profissão no ano passado. E este ano, até o final de fevereiro, foram registrados outros cinco casos no Estado. Em um deles, uma equipe da TV Record Bahia foi agredida quando cobria um acidente de trânsito. A repórter chegou a ser esmurrada por um dos dois agressores. Detidos, os agressores foram levados a uma delegacia, onde foi lavrado um termo circunstanciado de ocorrência, e liberados em seguida – ou seja, para a autoridade policial, o murro na jornalista foi uma mera “infração de menor potencial ofensivo”.

Diante desse cenário preocupante, na última quarta, dia 5, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia (Sinjorba) e a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) instalaram oficialmente a Rede de Combate à Violência Contra Profissionais de Imprensa, em evento com a presença de representantes de veículos de comunicação e de órgãos governamentais.

Uma tentativa de somar esforços para combater a impunidade e garantir um ambiente mais seguro aos jornalistas no exercício do seu ofício. No fundo, uma espécie de amplificação da frase famosa: Entre sem bater. Dessa vez sem o toque de humor, mas com a efetividade da cobrança cidadã.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador.

 

 

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