Covid-19: adultos são fonte de infecção mais comum que crianças

Fila na porta das agências da Caixa Econômica para sacar o dinheiro do auxílio emergencial Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
Fila na porta das agências da Caixa Econômica para sacar o dinheiro do auxílio emergencial Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

Embora estudos sugiram que crianças e adolescentes que participem de colônias de férias e eventos sociais possam levar a Covid-19 para suas casas, um trabalho de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), da Universidade da Califórnia (UCLA) e da London School of Hygiene and Tropical Medicine (LSHTM) indica que eles mais frequentemente são infectados por adultos do que atuam como transmissores.

Uma prévia do artigo A dinâmica da infecção de Sars-CoV-2 em crianças e contatos domiciliares em uma comunidade pobre do Rio de Janeiro, a ser publicado na Pediatrics, Official Journal of the American Academy of Pediatrics, explica que o estudo envolveu 667 participantes em 259 domicílios, no período de maio a setembro de 2020. Destes, 323 eram crianças (de 0 a 13 anos), 54 adolescentes (14 a 19 anos) e 290 adultos. Os testes de 45 crianças (13,9%) deram positivo para o vírus. O estudo mostra ainda que a infecção foi mais frequente em crianças com menos de 1 ano e na faixa de 11 a 13 anos. Todas haviam tido contato com um adulto ou adolescente com sinais recentes de Covid-19. Se for comparado com dados do Rio, o estudo mostra que um terço dos contatos domiciliares pesquisados tinham sido expostos ao vírus por volta de agosto de 2020, uma taxa maior do que o registrado na população geral da cidade no mesmo período: 33% contra 7,5%.

Para os pesquisadores, “as crianças incluídas no estudo não parecem ser a fonte da infecção de Sars-CoV-2 e mais frequentemente adquiriram o vírus de adultos”. “Nossas descobertas sugerem que em cenários como o estudado, escolas e creches poderiam potencialmente reabrir se medidas de segurança contra a Covid-19 fossem tomadas e os profissionais adequadamente imunizados”, diz o texto.

Como crianças, em geral, são a sintomáticas e tendem a seguir menos os protocolos de higiene e de distanciamento social, elas poderiam ser uma fonte de transmissão, lembra o estudo, o que motivou muitos países a fecharem as escolas precocemente e mantê-las fechadas por longos períodos. “Uma melhor compreensão do papel das crianças na dinâmica de transmissão é de importância fundamental para desenvolver diretrizes para a reabertura das escolas em segurança e de outros espaços públicos, além do desenvolvimento de estratégias de imunização”, diz o artigo. Para os pesquisadores, isso é particularmente importante em comunidades pobres, onde há um grande número de pessoas vivendo em uma mesma casa.

O ponto de partida para a pesquisa foi o acompanhamento de crianças com menos de 14 anos que buscaram algum tipo de atendimento no Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), em Manguinhos. Essas crianças passaram, então, a serem visitadas em casa, sendo submetidas a testes de PCR e de sorologia (IgG). Adultos e adolescentes nessas casas também foram testados.

Um total de 32,6% (79/242) das crianças com menos de 14 anos e 31% (72/231) dos contatos familiares tiveram testes positivos, indicando que já tinham sido expostos ao Sars-CoV-2 até setembro de 2020. Das 45 crianças com testes positivos, 26 tiveram contato com um adulto também positivo. As outras 19 tiveram contato com adultos que não consentiram em fazer o teste, mas que relataram sintomas suspeitos de Covid-19. A pesquisa observou também uma proporção maior de crianças com menos de um ano infectadas, em comparação com grupos pediátricos de outras idades, o que seria atribuído ao contato direto com as mães. Enquanto um estudo na China revelou uma taxa de infecção de 17% em bebês, a pesquisa feita em Manguinhos registrou aproximadamente 30%.

Fonte Fiocruz

Outras Notícias