Falta de manutenção ameaça o Teatro Castro Alves, um patrimônio do povo baiano

foto texeira nova

José Carlos Teixeira*

“Quem não cuida de si, que é terra, erra

Que o alto Rei, por afamado amado
É quem lhe assiste ao desvelado lado”

(Mortal Loucura, de José Miguel

Wisnik e Gregório de Mattos)

 

Não é boa a situação do Teatro Castro Alves, principal equipamento cultural de Salvador e um dos mais importantes do Brasil. O prédio de linhas modernistas, marco da arquitetura brasileira moderna e tombado desde 2013 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), enfrenta sérios problemas resultantes da falta de manutenção que, se não forem corrigidos de imediato, poderão acabar até mesmo comprometendo a estrutura do edifício.

Quase todos os camarins estão sem funcionar adequadamente devido a problemas nas redes de água e de energia elétrica. A maior parte dos banheiros não funciona, com infiltrações e entupimentos. Até janeiro passado, quando o equipamento foi interditado, artistas dos espetáculos em pauta tinham que formar filas para poder usar os poucos banheiros ainda em condições de funcionamento. Um avexamento!

O teatro permanece interditado desde o dia 25 de janeiro, em razão de um princípio de incêndio que atingiu a parte externa do telhado, sobre a Sala do Coro, provocando a evacuação de todos os funcionários. O fogo foi controlado pelos bombeiros e não chegou a alcançar a área interna do prédio devido ao acionamento do sistema anti-incêndio. O alastramento das chamas pelo telhado foi atribuído ao acúmulo de material inflamável, como fibras e resinas, por conta da execução de serviço no local.

A Polícia Técnica concluiu que o incêndio não teve origem criminosa. Mas o princípio de incêndio acendeu uma luz vermelha nas salas dos iluminados do Governo do Estado, ressabiados já com a perda do Centro de Convenções da Bahia, outro icônico exemplar da arquitetura moderna da cidade.

O primeiro sinal de que algo não cheirava bem na gestão do Centro de Convenções foi a interrupção de um congresso internacional de medicina que ali se realizava, devido a problemas na rede de esgotamento sanitário do prédio, o que resultou no transbordamento dos banheiros do piso superior. Um vexame internacional!

Dois anos depois, em 2015, a Prefeitura de Salvador interditou o equipamento, por falta de manutenção predial e de um projeto de combate a incêndio e pânico. No ano seguinte, na noite do dia 23 de setembro de 2016, parte do prédio desabou. Um laudo do Departamento de Polícia Técnica, concluído em 2017, apontou que o desabamento foi causado por falta de manutenção, por abandono. Uma vistoria posterior concluiu pela condenação de todo o edifício, cujo esqueleto ainda permanece lá, monstruosa ruína a atestar a incúria dos responsáveis pela gestão do equipamento.

O princípio de incêndio no Teatro Castro Alves é um claro indicativo de que as coisas não vão boas por lá. E um precioso aviso aos responsáveis pela manutenção do equipamento: há que cuidar desse importante patrimônio do povo baiano.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador.

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