Há uma pedra chamada Marcelo no caminho de Zé Ronaldo

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José Carlos Teixeira*

 

Tem nome e sobrenome a primeira grande pedra no caminho que vem sendo cuidadosamente pavimentado por José Ronaldo de Carvalho, ex-prefeito de Feira de Santana, e que tem como ponto final a vaga de candidato a senador na chapa majoritária das oposições encabeçada por ACM Neto.

É dever esclarecer que a mesma estrada poderia levar também à vaga de candidato a vice-governador, mas essa, pelo que se sabe, já estaria destinada a uma mulher. Uma opção para atender às exigências femininas nesses tempos de luta pela inclusão e empoderamento da mulher. Ah, se for uma mulher jovem e filiada a um partido à esquerda do Democratas, melhor ainda, sonha o pessoal do marketing…

A pedra no caminho de Zé Ronaldo atende pelo nome de Marcelo Nilo e é deputado federal pelo PSB, partido da base do governador Rui Costa. É um político experiente. Foi deputado estadual por sete mandatos e presidiu a Assembleia Legislativa durante 10 anos consecutivos.

Marcelo nunca escondeu seu sonho de ser governador e por várias vezes tentou viabilizar-se como candidato do grupo que domina a política baiana desde 2007, quando o petista Jaques Wagner assumiu o governo do Estado, pondo fim a décadas de hegemonia do carlismo. Era o que ele queria, mas aceitava também ser vice-governador ou candidato ao Senado. Em nenhum momento, porém, conseguiu criar as condições objetivas para tanto.

Ele chegou ao PSB em 2018, após uma breve passagem pelo PSL (antes disso, esteve no PSDB e no PDT). Foi o mais votado do partido naquele ano, superando até mesmo Lídice da Mata, que é a liderança maior da legenda na Bahia. Teve 115.277 votos e ela, 104.348.

Nos últimos meses, porém, vinha buscando um partido para disputar a reeleição, pois as projeções indicam que o PSB deverá conquistar apenas uma cadeira de deputado federal – e o partido vai fazer tudo para que ela seja ocupada por Lídice, sua líder histórica.

Nessa busca, Marcelo extrapolou os limites da base governista e andou conversando com políticos ligados a ACM Neto. Ao que se sabe, não chegou a conversar com o virtual candidato a governador pela oposição, mas esteve com alguns políticos que lhe são muito próximos, como o ex-deputado tucano Jutahy Magalhães e o prefeito da capital, Bruno Reis.

Esses encontros chegaram à imprensa, mas já turbinados com uma suposta candidatura de Marcelo a senador na chapa de Neto – a pedra no caminho de Zé Ronaldo.

No comando da campanha de Neto, ninguém confirma, nem desmente. Mas não se esconde um certo entusiasmo com a ideia, não pelo potencial de votos de Marcelo Nilo – os comentários, aliás, indicam que ele vem perdendo redutos eleitorais – mas sobretudo por se tratar de um político de expressão da base governista e tido como amigo de Jaques Wagner.

Marcelo Nilo sempre fez questão de alardear essa amizade com Wagner. Aqui e na França, onde os dois dividiram a mesma garrafa de Bordeaux durante visita oficial que fizeram àquele país no outono de 2011 para participar de uma edição do Salon du Chocolat – fotos do animado e prazeroso tim-tim circularam nas redes sociais, na época.

Nas hostes governistas, a avaliação é que Marcelo Nilo está apenas cuidando de valorizar seu passe na busca por um novo partido e buscando eventuais compensações para conter a invasão de seus redutos eleitorais por deputados bem abastecidos de emendas do orçamento secreto comandado pelo Centrão. Só que, no entendimento de alguns, parece ter ido longe demais.

Vereador, deputado estadual de três mandatos, deputado federal e quatro vezes prefeito de Feira de Santana, a maior cidade do interior da Bahia, Zé Ronaldo não é nenhum neófito nesse tipo de jogo. Velha raposa política, não se abala. Segue o caminho que traçou, convencido de que, se pedras aparecerem, saberá contorná-las. Sem pressa, pois, afinal, ainda estamos a oito meses e meio da eleição.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.

 

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