Na disputa pela vaga no TCM, pode valer o antigo ditado: Mateus, primeiro os teus!

foto texeira nova

José Carlos Teixeira*

 

A um oficial, que ansiosamente o interpelara sobre aquele

transe, respondera com humorismo triste, rimando um dito

popular do Norte: ” É tempo de murici, cada um cuide de si…”

(Os Sertões, de Euclides da Cunha)

 

Imagine o estimado leitor, sempre prudente e comedido em suas avaliações, a seguinte situação: eleito governador da Bahia em 1994, Paulo Souto, dois meses após tomar posse, indica a esposa de Antonio Carlos Magalhães, seu antecessor no cargo e padrinho político, para uma vaga de conselheira no TCM, o Tribunal de Contas dos Municípios.

Ah, seria um Deus nos acuda, minha cara leitora! Dá para imaginar o barulho que a oposição, com a pequena (apenas cinco deputados, num universo de 63), mas combativa e valente bancada do PT à frente, faria, condenando a iniciativa em acalorados discursos da tribuna e incontáveis entrevistas à imprensa.

Naquele tempo, pouco adiantaria a barulheira. Absurdamente hegemônico, o grupo carlista, comandado com mão de ferro por ACM, o avô, certamente aprovaria sem pestanejar a hipotética indicação, pouco ligando para os reclamos da oposição e para a tal da opinião pública. Manda quem pode, diriam.

Mas, como se diz, o mundo gira e a lusitana roda. A partir de 2006 o poder político na Bahia sofreu uma total inversão: o PT conquistou o governo do Estado, com a eleição de Jaques Wagner, e estabeleceu uma nova hegemonia com o auxílio precioso de uma pá de trânsfugas do carlismo.

Pois, nesse novo tempo, o que coloquei como uma mera hipótese, tão somente para apimentar a abertura desse artigo, tem tudo para se tornar realidade, mas com sinais trocados: detentor do quinto mandato petista no governo baiano, o governador Jerônimo Rodrigues, que assumiu o cargo há um mês, se prepara para acolher uma indicação da Assembleia Legislativa e nomear para o TCM a ex-primeira dama Aline Peixoto, esposa de Rui Costa, seu antecessor e padrinho político.

A vaga foi aberta em maio do ano passado, quando o conselheiro Raimundo Moreira se aposentou compulsoriamente, após atingir a idade limite de 75 anos, e vinha sendo cuidadosamente guardada. Não faltam interessados no cargo, que é vitalício e bem remunerado (o subsídio é R$ 35.462,22, mas pode passar disso com outros benefícios). Nos corredores da Assembleia, porém, o que se comenta é que a vaga já tem dono. Ou melhor, tem dona.

Rui Costa, hoje poderoso ministro com cadeira no Palácio do Planalto, a poucos metros da sala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não comenta o assunto. Mas o deputado Alex Lima (PSB), que tinha interesse no cargo, esteve com ele no final de semana, em Brasília, e retornou a Salvador dizendo que está fora da disputa, pois não tem forças para concorrer com Aline Peixoto.

Mas, mesmo assim, se diz que ainda não é jogo jogado. É que a manobra teria incomodado duas lideranças de alto calibre da base governista. Eles acham que a indicação da ex-primeira dama – que é enfermeira de formação – para o TCM será motivo de desgaste para o governo que se inicia e para os partidos que lhe dão sustentação.

É esperar para ver se haverá recuo ou se vai prevalecer o velho ditado que reza: Mateus, primeiro os teus!

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador.

 

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