José Carlos Teixeira*
“É um tempo de guerra
É um tempo sem sol
Sem sol, sem sol, tem dó”
(Tempo de Guerra, de Edu
Lobo, Guarnieri e Boal)
Foi mais um fim de semana trágico em Salvador e em Feira de Santana. Nas duas cidades, pelo menos doze pessoas foram mortas à bala. Sete na capital e cinco na maior cidade do interior. Mas convém explicar que esses números podem ser maiores – eles se referem apenas aos casos que chegaram ao conhecimento da imprensa.
Coincidentemente, nesse mesmo fim de semana, as emissoras de televisão começaram a veicular uma propaganda bonitinha, com uma musiquinha idem, na qual se diz que o Governo do Estado “chegou chegando” e que, entre outros ganhos, os baianos têm mais segurança nas ruas – evidentemente se referindo aos dois meses de gestão do governador Jerônimo Rodrigues.
O pessoal da propaganda, no entanto, deu azar. Logo nesse fim de semana? Não poderiam esperar um pouquinho mais, para quando as coisas de fato melhorassem? Agora, foi um tiro n’água.
Devo dizer que eu torço, fervorosamente, pelo dia em que a violência decresça de fato e a gente possa andar na rua sem medo, levar os filhos na escola e ir ao mercado sem receio (um dos mortos do fim de semana foi um idoso que saiu de casa para comprar pão). Enfim, que a gente possa sair de casa com a certeza da volta.
Mas, claramente, esse dia ainda não chegou e a propaganda chega a ser inconveniente, para usar um termo educado. Para não deixar dúvidas quanto à inconveniência da tal propaganda, também neste fim de semana em que ela começou a ser veiculada na televisão, além dos sete homicídios na capital, foi registrado um tiroteio em uma festa de rua no bairro Tancredo Neves, que deixou um saldo de dez pessoas baleadas, entre elas três crianças.
A crescente ocorrência de tiroteios, sobretudo nos bairros de Salvador, aliás, é uma novidade que vem se incorporando à escalada da violência na Bahia. Só no mês passado, segundo levantamento feito pelo Instituto Fogo Cruzado foram registrados 118 tiroteios em Salvador e sua Região Metropolitana, que deixaram 79 pessoas mortas e 24 feridas. Em janeiro, foram 109 tiroteios, com 72 mortos e 12 feridos.
De acordo com o instituto – que vem monitorando essas ocorrências em Salvador e também no Rio de Janeiro e Recife –, desses 118 tiroteios registrados em fevereiro, 37 ocorreram em ações e operações policiais e 31 foram resultado de disputas entre facções criminosas. Só na capital foram 92 tiroteios, com 59 mortos e 17 feridos.
Como se vê, é, no mínimo, uma impropriedade dizer que o baiano, graças ao novo governo, tem mais segurança nas ruas. Por enquanto, tal como no governo anterior, segurança mesmo só existe na propaganda governamental. Ah, como a gente gostaria de morar lá!
*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador.
