Novo ano chega com a renovação da esperança em um mundo melhor de se viver

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José Carlos Teixeira*

“Amanhã
A luminosidade
Alheia a qualquer vontade
Há de imperar”

(Amanhã, de Guilherme Arantes)

 

A valsa Fim de ano, mais conhecida pelas três palavras do seu primeiro verso (Adeus, ano velho…), é um desses casos curiosos da música popular brasileira: tornou-se peça de execução obrigatória em todo o Brasil – se bem que em apenas um dia no ano. É tão certo ouvi-la na noite do réveillon quanto a Ave Maria às seis da tarde nas emissoras de rádio católicas.

Composta pela dupla David Nasser e Francisco Alves, a música foi gravada pela primeira vez em 1951 pelo cantor João Dias e logo se tornou um sucesso de vendas – mais de 30 mil discos vendidos no primeiro ano, o que era muito para a época.

De lá para cá, seguiram-se dezenas de gravações, de Emilinha a Ivan Lins, de Lindomar Castilho a Sílvio Santos e Suas Colegas de Trabalho, e ganhou até mesmo uma versão em japonês: Toshi no Owakarê, com a dupla nipo-sertaneja Nissei & Sansei.

Puxe pela memória, gentil leitor, e tente lembrar quantas vezes você ouviu e até mesmo cantou junto pelo menos os versos iniciais da canção:

“Adeus, ano velho
Feliz ano novo
Que tudo se realize
No ano que vai nascer”

A letra da valsinha despede-se do ano que finda e augura sonhos para o ano que se inicia: sorte no amor para os solteiros, paz e sossego entre os casais, muito dinheiro no bolso, saúde para dar e vender. “Que tudo se realize / No ano que vai nascer”, cantamos, nem sempre no tom, mas afinados no mesmo desejo de que tudo isso se concretize.

Enfim, a singela canção retrata bem o clima da noite da virada, tradicionalmente marcada pelo sentimento de esperança renovada em um mundo melhor, em uma vida mais feliz. Para nós, para nossas famílias, nossos amigos, nossa gente, para nossa terra.

Este ano, porém, foi diferente. A renovação da esperança, o desejo de um mundo e de uma vida melhores de se viver não esperaram a noite da virada para se manifestarem. Veio muito antes. Talvez mesmo no primeiro dia do ano. Pudéssemos e já em janeiro estaríamos cantando: “Adeus, ano velho…”

Não foi à toa, portanto, que “esperança” foi eleita a palavra do ano de 2022 por 23 por cento dos brasileiros entrevistados em uma pesquisa da consultoria Cause e do Instituto de Pesquisa Ideia. Em segundo lugar, empatadas com 4 por cento cada, ficaram as palavras “decepção” e “dificuldade” – o que nos permite inferir que diante de um quadro de descrença, aflição e incerteza, a esperança não poderia esperar muito.

É isso. Feliz ano novo para todos! Mas, para não deixar dúvida alguma, encerremos com os versos iniciais de outra canção, essa de Lamartine Babo, chamada, não por coincidência, Adeus, ano velho, e gravada por Simone de Moraes, também em 1951:

 “Adeus ano velho, boa viagem,

leva na bagagem todo o mal…”

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador.

 

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