O dilema do novo governo na segurança pública: privilegiar a inteligência ou a força

teixeira foto nova

José Carlos Teixeira*

 

“Nossas vidas nas ruas

Já não valem nada

Ninguém sabe se está vivo

Na próxima parada”

(Sociedade falida, de Edson Gomes)

 

Deveria ter sido a manchete principal de todos os noticiários. Com todo o destaque que o fato merecia: em um único dia, quinta-feira da semana passada, 16, uma megaoperação da polícia baiana realizou 263 prisões como resultado do cumprimento de mandados e algumas autuações em flagrante. Um recorde. Mas acabou recebendo o tratamento de uma notícia comum.

Foram presos 43 suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas e 42 acusados de crimes contra o patrimônio, bem como acusados de participação em crimes contra a vida, abuso sexual e violência doméstica. Também foram cumpridos mandados de busca que resultaram na apreensão de drogas, armas, munições e veículos.

A megaoperação, desenvolvida em 400 municípios do Estado com a participação de mil policiais das 26 coordenadorias regionais de polícia do Interior, foi a oitava fase da Unum Corpus (expressão latina que significa “um só corpo”), operação cuja primeira fase foi realizada em 2021. Nas oito etapas foram feitas 990 prisões.

Os números dessa oitava fase da operação são expressivos. Mas seu maior significado é o indicativo de retomada dos trabalhos de inteligência e o cumprimento de mandados para captura de suspeitos expedidos pela Justiça.

Quem acompanha o noticiário policial percebe que desde o mês passado vem crescendo o número de prisões de suspeitos realizadas pela Polícia Civil. Isso representa uma mudança na orientação da Secretaria da Segurança Pública, comandada desde 1º de janeiro pelo delegado federal Marcelo Werner.

Lamentavelmente, no dia seguinte à megaoperação da Polícia Civil que resultou em tantas prisões, todas escoradas em decisões judiciais, uma ação da Polícia Militar no bairro Massaranduba, em Salvador, deixou ferido um adolescente de 16 anos que em companhia de amigos e vizinhos assistia a um jogo em um campo de futebol da localidade.

Os policiais disseram ter atendido a uma denúncia de que havia homens armados no local e que foram recebidos a bala. Moradores, no entanto, disseram que a polícia já chegou atirando. Na correria que se seguiu, o jovem foi atingido com um tiro pelas costas.

As duas situações revelam o dilema vivido pelo governador Jerônimo Rodrigues para estabelecer a política de segurança do seu ainda iniciante governo: privilegiar a inteligência, como sinaliza o novo chefe da polícia, ou manter a força como elemento principal de combate ao crime, como ocorria no governo anterior, com praticamente nenhum resultado – exceto o de fazer da polícia baiana a que mais mata no País, título bem ao gosto dos mais radicais bolsonaristas.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador.

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