Polícia faz megaoperação em dez bairros de Feira, mas número de homicídios segue disparado

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José Carlos Teixeira*

“Acorda, amor

Eu tive um pesadelo agora

Sonhei que tinha gente lá fora

Batendo no portão, que aflição

Era a dura, numa muito escura viatura”

(Acorda, amor, de Chico Buarque)

 

De repente, não mais que de repente, depois de registrar uma onda de violência, com mais de uma dezena de homicídios nos dez primeiros dias do novo ano, Feira de Santana se transformou em palco de uma intensa movimentação policial na sexta-feira, 13. De tal sorte que os moradores, até então temerosos e amedrontados em face da insegurança, chegaram a pensar que finalmente iam ter alguma tranquilidade, um pouco de paz. Mas pensaram errado, como se verá.

Logo cedo, as viaturas policiais entraram na cidade enfileiradas. Um enorme comboio transportando policiais civis vindos de Salvador, Santo Antônio de Jesus, Itaberaba, Santo Amaro e Serrinha, que se juntaram a seus colegas de Feira. Começava a Operação Pacificatio (pacificação, em latim), que mobilizou um total de 80 homens fortemente armados, alegadamente para reprimir crimes contra a vida e o tráfico de drogas na cidade.

Os agentes se subdividiram para cumprir medidas judiciais e averiguar informações obtidas pelo trabalho da inteligência policial ou recebidas por meio do Disque Denúncia, capazes de levá-los aos grupos criminosos e neutralizar suas ações. Espalharam-se e percorreram ruas de pelo menos dez bairros da cidade.

Ao final do dia, veio o balanço da operação: dois adolescentes apreendidos com trouxinhas de maconha e um adulto preso com um 38 enferrujado, segundo relato do experiente jornalista local Jânio Rego, editor do Blog da Feira.

Muito pouco, é verdade. Mas já foi algum alento para quem andava com medo de sair de casa.

De todo modo, a megaoperação foi complementada com uma solenidade dessas boas para tirar retrato e distribuir com a imprensa: no mesmo dia, na cidade, com as presenças do comandante geral da Polícia Militar, coronel Paulo Coutinho, e do recém-empossado secretário da Segurança Pública, Marcelo Werner, foram entregues 27 viaturas e 19 motocicletas, para as unidades do Comando de Policiamento da Região Leste – um investimento de mais de R$ 1,3 milhão.

A pantomima, porém, não surtiu efeito: pouco mais de uma semana depois, o número de homicídios em Feira de Santana saltou para 33 – o último, na manhã deste domingo, 22, vitimou uma mulher, atingida por vários tiros disparados por dois jovens quando passava pelo bairro Mangabeira.

Na falta de ações de segurança concretas e eficazes, sobraram declarações na imprensa: o prefeito Colbert Martins cobrou providências do governador Jerônimo Rodrigues para proteção dos moradores da cidade. O chefe do governo estadual, porém, não gostou e, por sua vez, replicou dizendo que o prefeito devia descer do palanque, pois a eleição já passou. Já o deputado federal Zé Neto (PT), derrotado por Colbert nas urnas de 2020, pegou carona na discussão para defender Jerônimo e acusar Colbert de criar factoides.

Ficamos assim, então: enquanto os políticos trocam acusações e discutem para saber quem é o culpado pela insegurança, a população segue amedrontada, as pessoas continuam morrendo e a criminalidade avança e toma conta da cidade.

 

José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político pela Universidade Católica do Salvador.

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