Políticos se entregam ao alavantu e anarriê para ganhar forças de olho em 2026

teixeira foto nova

José Carlos Teixeira*

“Fagulhas, pontas de agulhas

Brilham estrelas de São João

Babados, xotes e xaxados

Segura as pontas, meu coração”

(Festa do Interior, de MoraesMoreira e Abel Silva)

 

Este ano, a movimentação de políticos pelo interior da Bahia no período junino está sendo bastante intensa. Começou cedo, com os festejos em homenagem ao casamenteiro Santo Antônio, ganhou mais ritmo nas proximidades do São João, o ápice da folia, e continuará firme até o São Pedro, o santo protetor das viúvas e guardião da porta do Céu, no final do mês.

Em ano eleitoral – o que não é o caso – é comum esse ritmo mais intenso, com os candidatos aproveitando o período das festas juninas para, ao som de xotes, baiões e xaxados, dar o pontapé inicial na cata de votos, prestigiando os shows e arrasta-pés promovidos por prefeitos e pequenas lideranças municipais para buscar o contato direto com os eleitores.

O próximo pleito só ocorrerá em 2024, quando se renovarão os mandatos de prefeitos e vereadores. Serão disputas locais. Então, qual a motivação de tanto alavantu e anarriê a movimentar políticos de todos os calibres e partidos, em febril maratona pelos municípios do interior? São as eleições de 2026, meu caro leitor.

Aparentemente, o quadro político baiano está tranquilo, dentro do que se tradicionalmente se convencionou para os seis primeiros meses após a posse dos eleitos: o governo começa a governar – ou, em casos extremos, tenta governar – e a oposição se mantém em uma espécie de quarentena, aguardando o tempo certo para começar a cumprir o papel de se opor de forma mais contundente.

Isso, na superfície. Abaixo dela, porém, há um turbilhão a sacudir as forças políticas por conta do movimento de aglutinação de forças para ampliar a tal da governabilidade. Começou depois que o governo pôs em marcha o velho recurso da cooptação de adversários, atraindo para suas hostes uma parcela dos oposicionistas pouco ortodoxos, permeáveis a trocar de lado em troca de vantagens como obras, convênios, cargos, emendas e nomeações.

Nada de novo, seja aqui ou acolá, em Ondina ou no Planalto. É do jogo, dizem os que cooptam. Não é democrático, rebarbam os que perdem os cooptados. Tenho que atender minhas bases, alegam os trânsfugas.

A questão é que, no forró da cooptação, saem mais fortalecidos, é claro, os grupos da base governista que mais cooptados recebem. Mais fortes, passam inclusive a ganhar peso na dança das cadeiras de 2026, quando buscarão conquistar uma vaga na chapa majoritária governista.

Daí a intensa movimentação pelo interior em busca de celebrar acordos, firmar alianças, agregar apoios, ampliar as bases para chegarem fortalecidos nas vésperas da definição dos nomes. Vale o velho princípio: quem primeiro chega à fonte bebe água mais limpa. Assim, não se perde arrasta-pé, por menor que seja, nem conversa no pé do ouvido do prefeito, do vice-prefeito, do vereador…

Vejamos um caso, que pode resultar em imbróglio forte em 2026. O ex-deputado federal Ronaldo Carleto deixou o Progressistas, insatisfeito com a saída do partido da base governista para apoiar a candidatura de ACM Neto a governador. Em maio passado, filiou-se ao Avante, assumindo também a presidência do diretório estadual do partido, até então comandado pelo deputado federal Pastor Sargento Isidório. Leva com ele pelo menos quatro deputados estaduais e pouco mais de 40 prefeitos.

Com isso, o Avante que era um partido de menor expressão na base governista ganhou relevância e Carleto, forte empresário na área de transporte, tornou-se um player importante.

Diz-se que Carleto quer ser candidato a senador em 2026 e que essa possibilidade chegou a ser aventada durante as conversas que o levaram para o ninho do governador Jerônimo Rodrigues. Serão duas vagas em disputa e os atuais ocupantes das cadeiras, Jaques Wagner (PT) e Ângelo Coronel (PSD), são candidatos naturais.

Em duas cadeiras, não cabem três. Ou quatro, pois o ex-governador Rui Costa também pensa na vaga, caso Lula decida concorrer à reeleição, descartando o sonho do atual ministro-chefe da Casa Civil de ser o candidato do PT a presidente em 2026. O imbróglio estaria formado.

Por enquanto, esse quadro é um mero exercício de futurologia política para animar o forrobodó e garantir assunto para as conversas ao pé da fogueira. Mas, pelo sim, pelo não, convém aos interessados arregimentar e consolidar forças. E também, por via das dúvidas, quem sabe recorrer à faca enfiada no tronco da bananeira ou a outra das muitas adivinhações que integram o folclore da noite de São João, para saber o que o futuro lhes reserva.

Viva São João!

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador.

 

 

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