“Se for pra fazer patrimônio material, tem que procurar outra coisa que não seja política”, diz prefeito de Jacobina

Tiago Dias, prefeito de Jacobina
Tiago Dias, prefeito de Jacobina
Tiago Dias, prefeito de Jacobina

Eleito com 19.207 votos (45,82% dos votos válidos), o prefeito de Jacobina, Tiago Dias (PCdoB) foi o entrevistado do quadro Conversa Franca, do Jornal Transbrasil 99,5, nesta sexta-feira (15). Entre outros assuntos, o prefeito que tomou posse vestido de vaqueiro falou sobre o decreto em que reduziu 93% do seu salário.

 

  1. Como surgiu a ideia de tomar posse vestido de vaqueiro?

Eu sou trabalhador rural. Esta é a primeira vez que Jacobina experimenta um modelo de político vindo do campo e a gente precisava passar essa mensagem com alguns gestos. Eu estava vestido de vaqueiro para dizer que 90% da população de Jacobina estava chegando para tomar posse, para administrar o município. Então, foi um ato em demonstração de que o campo agora tinha vez e voz.

  1. O senhor foi vereador em 2012, reeleito em 2016. Ser prefeito sempre foi um sonho?

 

Eu sempre trabalhei com planejamento. Quando eu fui eleito presidente da associação da minha comunidade, em 2008, eu fiz um planejamento para em 2010 ir para a reeleição e, em 2012, dependendo de como estivesse a aceitação de nosso trabalho, ir para a vereança. Disputei a eleição da associação em 2008 e, em 2010, eu fui candidato único. Então, a população aprovou. Eu disse: dá pra tentar uma vaga no legislativo, já que eu sempre tive o pensamento de que nós temos que ocupar os espaços de decisão. Não adianta a gente ficar só reclamando, sem colocar-se a disposição. Platão já dizia: o castigo dos bons, que não gostam de participar da política, é ser governado pelos maus. Quando você não participa, alguém toma a decisão por você. Então, coloquei o nosso nome e fui o segundo mais votado em 2012. Nosso candidato a prefeito, Amauri [Teixeira], deputado federal, perdeu em 2012. Fiz um planejamento de que Amauri ganharia a eleição em 2016; em 2020, serei o vice dele e em 2024 eu faço a sucessão. Mas, em 2016, eu fui eleito o [vereador] mais votado, Amauri perdeu a eleição e aí começaram as mudanças no planejamento. Em 2018, lancei a minha candidatura a deputado estadual. Eu acreditava que Amauri me apoiaria. Ele não me apoiou. Tivemos uma votação expressiva: sou o candidato a deputado estadual mais votado dos últimos 30 anos e o segundo mais votado da história de Jacobina. Isso nos credenciou para uma pré-candidatura a prefeito. Fui eleito numa movimentação nunca vista na cidade. Aqui, temos dois grupos que vêm se revezando por 24 anos e esses grupos se juntaram contra a gente.

 

  1. Logo no primeiro dia do mandato, o senhor baixou um decreto que reduziu seu salário em 93%. Isso atingiu os salários do vice prefeito, secretários e vereadores?

 

Não. O decreto foi exclusivo para o prefeito. Reduzi o meu salário para um salário mínimo. Essa foi uma decisão pessoal, que tomei no dia do lançamento da minha pré-candidatura. Não revelei para ninguém, nem na campanha, porque poderia parecer demagogo, oportunista ou fazendo algum tipo de apelação.

 

  1. O senhor pretende manter esse decreto por todo o seu mandato?

O primeiro decreto só foi para os 12 meses. Em janeiro do ano que vem, faremos outro, de acordo com a nova lei que entrará em vigor. A ideia é manter pelos quatro anos, já que a maioria dos trabalhadores sobrevivem com até um salário mínimo. Por que eu, que tenho carro a disposição, combustível a disposição, tenho o status do prefeito, não vou conseguir sobreviver? Quem dera que todos os assalariados estivessem numa zona de conforto como eu estou. Eu penso que, se for pra fazer patrimônio material, a pessoa tem que procurar fazer outra coisa que não seja política. Política é para cuidar das pessoas. No dia que eu achar que tenho que adquirir riquezas materiais, eu saio da política e vou pra iniciativa privada, colocar um comércio.

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