Secretário quer selo verde para a Bahia, mas terá que brigar com meio governo

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José Carlos Teixeira*

“Terra, és o mais bonito dos planetas

Tão te maltratando por dinheiro

Tu que és a nave nossa irmã”

(O sal da terra, de Beto

Guedes e Ronaldo Bastos)

 

O feirense Ângelo Almeida, novo secretário de Desenvolvimento Econômico da Bahia, anunciou que uma das prioridades do seu consulado será fazer da Bahia o primeiro estado brasileiro a conquistar o selo verde, como é chamada a certificação conferida às empresas que produzem de forma sustentável, ou seja, por meio de ações de menor impacto ambiental e socialmente responsáveis.

Ele disse à imprensa que recebeu autonomia do governador Jerônimo Rodrigues para realizar as mudanças necessárias para construir na Bahia um novo modelo de economia sustentável, vinculado à necessidade de cuidar do meio ambiente. “O mundo está clamando por isso”, salientou, momentos antes de tomar posse no cargo.

É um discurso bonito. Mas para chegar lá Almeida terá que dar um cavalo de pau na atrasada política de meio ambiente praticada nesses dezesseis anos de governo petista. Nesse período, a Bahia tornou-se campeã absoluta no infame campeonato de devastação da Mata Atlântica. Só no primeiro semestre do ano passado foram desmatados 7.412 hectares no Estado, segundo o Sistema de Alertas de Desmatamento da Mata Atlântica. É também um dos estados líderes na devastação do Cerrado. Entre agosto de 2020 e julho de 2021 foram desmatados 92.500 hectares no Cerrado baiano, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

Como, até agora, nada foi sinalizado pelo novo governo acerca de mudanças na política ambiental, o discurso moderninho do secretário deve cair no vazio. Exceto, é claro, se ele estiver disposto a comprar e vencer a briga com as secretarias da Agricultura e do Meio Ambiente, que têm fechado os olhos às agressões ambientais nas diversas regiões do Estado, em nome de um modelo de desenvolvimento que cuida tão somente do lado econômico.

Se Almeida estiver mesmo disposto a ir à guerra, deverá começar com a batalha pela extinção da “Licença Ambiental por Adesão e Compromisso”, uma espécie de autolicenciamento instituído no governo de Jaques Wagner para facilitar as coisas para o agronegócio pois prescinde de prévia análise e aprovação de técnicos do órgão ambiental – um modelo tão bom que a bancada ruralista no Congresso tentou implementar em nível nacional durante o governo de Jair Bolsonaro.

Ou seja, para implantar um modelo econômico sustentável e obter o sonhado selo verde, o secretário de Desenvolvimento Econômico terá primeiro que brigar com seus próprios pares e convencer até mesmo o governador – o qual, perguntado outro dia se iria acabar com o autolicenciamento ambiental, desconversou.

Se não conseguir dar esse primeiro passo, o secretário ficará apenas no mero discurso. Bonitinho e moderninho, mas sem qualquer resultado prático.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador.

 

 

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