Sem trabalho em sua terra, muitos baianos aceitam qualquer trampo para ganhar o pão

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José Carlos Teixeira*

 

“Quero trabalhar em paz

Não é muito o que lhe peço

Eu quero um trabalho honesto

Em vez de escravidão”

(Fábrica, de Renato Russo)

O abominável episódio de mais de duas centenas de trabalhadores baianos mantidos em regime análogo à escravidão em vinícolas na região de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, alcançou enorme repercussão nacional e escandalizou o país com as denúncias de que as vítimas eram submetidas a torturas.

Uma questão, no entanto, ficou fora do noticiário e sequer foi tangenciada nas muitas manifestações das autoridades sobre o caso: o que leva trabalhadores baianos a deixarem sua terra para trampar mais de 3 mil quilômetros além, sem quaisquer garantias de que terá pela frente um trabalho realmente decente e honesto?

A resposta incomoda, mas é uma só: aqui na Bahia eles não encontram trabalho. O Estado permanece líder do ranking nacional do desemprego. Fechou o ano de 2022 com uma taxa de desocupação de 13,5%, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Trimestral, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).

É verdade que o desemprego é um problema nacional. O País tem 8,6 milhões de desempregados – um contingente equivalente a toda a população do Ceará. Só que outros Estados vivem uma realidade diferente: na rabeira do ranking, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Santa Catarina encerraram o ano com uma taxa de desocupação abaixo de 4%. Ao contrário da maioria dos estados, eles têm vagas sobrando e a disputa por mão de obra é grande.

Essa persistente situação de líder do desemprego acaba tornando os trabalhadores baianos presas fáceis para alguns inescrupulosos proprietários de empresas de terceirização de mão de obra, que lhes prometem o céu e a terra e criminosamente os atiram a situações análogas à escravidão – no caso de Bento Gonçalves, submetendo-os até mesmo a tortura com choques elétricos, spray de pimenta e outros maus-tratos.

O quadro de desemprego, é óbvio, somente será alterado com a retomada do crescimento econômico, a qual, por sua vez, só ocorrerá com a superação das carências de infraestrutura do Estado, por meio de investimentos em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos.

Esse é, aliás, o desafio colocado na mesa do governador Jerônimo Rodrigues: tirar do papel os projetos de infraestrutura que nos últimos anos encheram linguiça na propaganda oficial.  Sem isso, a economia baiana continuará patinando. E pleno emprego, todos sabemos, só com economia forte.

 

*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador.

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