Seu Jorge: ‘Meu trabalho é divulgar o Brasil. Mas o Brasil tá atrapalhando’

O ator, cantor, compositor Seu Jorge Foto: Leo Martins / Agência O Globo
O ator, cantor, compositor Seu Jorge Foto: Leo Martins / Agência O Globo
O ator, cantor, compositor Seu Jorge Foto: Leo Martins / Agência O Globo

Se alguém ainda duvidava que Seu Jorge é do mundo, basta ver o que ele andou aprontando — e o que ainda vai aprontar. Em fevereiro, ele encerrou no Eventim Apollo Hammersmith, em Londres, com a Heritage Orchestra, a turnê do show cantando David Bowie . No mesmo mês, foi recolher aplausos no Festival de Berlim para sua atuação como o protagonista de “ Marighella ”, filme de Wagner Mour a sobre o político, escritor e guerrilheiro Carlos Marighella. E este ano ainda, Seu Jorge participa de “Tropico”, longa com o americano Willem Dafoe , a ser dirigido pela mulher do astro, Giada Colagrande.

Mas agora é tempo de Brasil. Radicado desde 2013 em Los Angeles, o ator e músico nascido há 48 anos em Belford Roxo desembarcou dia 27 de março num Rio de muitas chuvas e tristeza para filmar “Medida provisória”, estreia na direção do ator Lázaro Ramos. E vai aproveitar a estadia para voltar aos palcos da cidade hoje, ao lado do parceiro Gabriel Moura, em mais uma edição do Baile Charme Show, que Gabriel vem organizando no Circo Voador. O clima é de alegria com a arte dos amigos e de consternação com o país.

— Meu trabalho hoje consiste em divulgar o Brasil, em promover o povo brasileiro. Mas tá difícil. O Brasil tá atrapalhando muito o meu trabalho. Muito. Não dá pra os caras chegarem e dizerem que o brasileiro sai daqui para fazer merda lá! — reclama Seu Jorge, em referência à declaração do ex-ministro da Educação Ricardo Vélez Rodríguez (demitido no começo do mês) de que o brasileiro, quando no exterior, “rouba coisas dos hotéis”.

“Marighella” (ainda sem data de estreia no Brasil), conta Seu Jorge, foi o grande desafio de sua carreira de ator de cinema que já começou internacional, com “Cidade de Deus”, em 2002.

 

 

— Tive 30 dias apenas para entender a complexidade de um ser como Carlos Marighella, um homem com uma luta contra a ditadura que veio desde Getúlio Vargas — relata o cantor, que, na apresentação do filme em Berlim, evitou demonstrações políticas. — Eu não preciso fazer nada, eu sou o Marighella. Essas causas são minhas, isso tudo eu vivi. Até os 12 anos lutei por moradia com a minha mãe e os meus irmãos. Até hoje, perto dos 50 anos, percebo o racismo, o preconceito, a indiferença e a intolerância do meu país.

Foi em busca da nobreza perdida de um Brasil “de João Gilberto e Tom Jobim” que Seu Jorge chegou nos últimos meses àquilo que será seu novo álbum, “The other side”, trabalho de intérprete que acabou de gravar com produção do constante parceiro Mario Caldato e arranjos do americano Miguel Atwood-Ferguson.

Acompanhado por seu quarteto e por uma orquestra, o cantor reinterpreta, de maneira classuda, canções da banda americana de funk Cane and Able (“Girl you move me”), do cantor inglês Nick Drake (“River man”) e dos brasileiros Milton Nascimento (“Crença”), Lô Borges (“Vento de maio”, com Maria Rita) e Arthur Verocai (“Caboclo”). Com estas, vêm as inéditas “Quando chego” (de Seu Jorge, Marisa Monte e Arnaldo Antunes) e “Luz da escuridão” (de Cézar Mendes e Capinam).

Da tela para o palco

“The other side”, o cantor conta, foi uma espécie de desdobramento do show de David Bowie, que ele começou a fazer em 2016, após a morte do astro inglês, revivendo as interpretações que havia criado para o seu personagem no filme “A vida marinha com Steve Zissou” (2004), de Wes Anderson.

— Eu achava que iam ter no máximo uns 17 shows, mas existia muita uma demanda reprimida. Veio um público cinéfilo, um público do Bill Murray (estrela do filme), mas do Bowie e meu também — conta Seu Jorge, que a partir daí incrementou o concerto de voz e violão com arranjos de orquestra.

Enquanto Seu Jorge não cai na estrada com “The other side” (ele negocia seu lançamento com algumas gravadoras), a chance de ver o músico este ano nos palcos é nesta sexta, no baile de Gabriel Moura, que terá ainda as participações de Marcelo D2, Hyldon, Kevin Njdana (finalista do “The Voice”) e a cantora novaiorquina Alma Thomas. Jorge e Gabriel celebram uma parceria que estreou em disco há 21 anos com “Moro no Brasil”, álbum do grupo Farofa Carioca.

— Todos os temas do disco cabem nos dias de hoje. Tenho um orgulho muito grande de ter participado desse momento. O Farofa teria até tido uma chance se não fosse a minha saída ( em 1999 ) — admite Jorge, que em 2005 retomou com Gabriel uma parceria que deu nas músicas “Burguesinha” e “Mina do condomínio”.

Esta sexta, anuncia Gabriel Moura, a noite é só de festa:

— O charme tem essa coisa de todo mundo estar dançando no mesmo passo. Eu nunca tinha feito um show em que o público se divertia entre ele próprio. Informações O Globo

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