A traição entre os dois homens mais poderosos do futebol das Américas do Norte e Central pode ser considerada como o estopim do caso de corrupção na Fifa, que estourou esta semana com a prisão de sete dirigentes em Zurique, na Suíça. Amigos por duas décadas, Chuck Blazer e Jack Warner comandavam a Concacaf e o esquema de propinas de compras de votos, direitos de transmissão, entre outros. O primeiro era o secretário geral da entidade, e o segundo, presidente. Na disputa pela sede da Copa do Mundo de 2022 a dupla naturalmente votaria nos Estados Unidos contra o Catar, Austrália, Japão e Coreia do Sul.
Porém, em dezembro de 2010, em uma sala de reuniões da Fifa, em Zurique, o catari Mohammed Bin Hammam, membro da Fifa e presidente da Federação Asiática de Futebol, estava com uma lista secreta de nomes que apoiariam o Catar. Ele não percebeu que sentado ao seu lado estava Blazer, que viu por cima de seu ombro o nome de Jack Warner saltar por entre os papéis. O dirigente que comandava o futebol dos Estados Unidos estava votando contra os americanos, segundo revelou o jornal The Sunday Times neste domingo (31). Warner negou ter recebido a propina, mas Blazer nunca o perdoou. Desde o dia em que o Catar foi eleito já havia suspeitas de suborno. O FBI não confirma, mas fontes em Washington ouvidas pelo jornal britânico disseram que as acusações de corrupção começaram a surgir quando a Fifa elegeu o Catar em detrimento dos Estados Unidos.
Em 2011, Blazer foi detido pelo FBI no meio de uma rua em Nova York por não ter declarado sua renda. Ele teve como opção ser preso ou colaborar. Ainda furioso com Warner, Blazer escolheu a segunda opção. Com um gravador camuflado no chaveiro, passou a participar de reuniões de funcionários da Fifa. A partir daí as investigações avançaram bastante, com a descoberta de extorsões, fraudes, lavagens de dinheiro e evasões fiscais. Ainda não está claro se a colaboração vai livra-lo da prisão. Com as denúncias, Warner foi obrigado a renunciar da presidência da Concacaf. Dentre elas estavam a negociação de uma propina de US$ 10 milhões para garantir a Copa do Mundo de 2010 na África do Sul.