Trancista Nadja Santos dá cursos e ensina mulheres a serem empreendedoras

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“Que horas ela volta?” Essa é a história de uma mãe, nordestina, de origem humilde e que virou doméstica para poder dar uma vida melhor para a sua filha. É importante para ela a sua filha ser vitoriosa na vida. Poderia ser a história de qualquer mulher brasileira, mas é um filme brasileiro de 2015, do gênero drama, escrito e dirigido por Anna Muylaert.

“Minha mãe sempre me contava a história de vida dela. Eu sempre admirei o quão forte ela sempre foi. Era algo triste, pois a vida dela nunca foi fácil, mas me encantava a determinação. E logo pensei: eu posso e quero ser como essa mulher, só que com uma história diferente”, disse.

Essa é a história de Nadja Santos, de 28 anos. Moradora do Tomba em Feira de Santana- BA, filha de mãe solteira e doméstica. Teve que trabalhar aos 14 anos para ajudar nas despesas da casa e ter aquilo que sua mãe não poderia lhe dar. Foi assim que ela começou a cuidar de si mesma e bancar o que ela chama de “sua vaidade”.

Nadja foi trabalhar com tranças. Ela sempre fascinada por cabelos e amava fazer tudo que fosse relacionado a área capilar. Aos 17 começou a passar pela transição capilar. Aos 18 resolveu fazer o BC sozinha. Big Chop (BC) é o corte da parte alisada do cabelo, deixando apenas os cachos. Ele é considerado como um processo necessário para que o cabelo cresça ainda mais forte e saudável.

Na mesma época, fazia um curso de cabeleireiro para alisamento. “Quando eu cortei o meu cabelo e conheci o universo que é o cabelo crespo, desisti do curso. Fui conhecer mais do meu cabelo natural. Os anos se passaram, fiquei desempregada e louca de vontade de trançar os cabelos, mas não tinha dinheiro para pagar. Até que resolvi fazer sozinha”, explica

Nas primeiras vezes que trançou seu próprio cabelo, Nadja disse que foram muito boas. Aos poucos e com paciência ela foi melhorando as tranças até que ficaram boas. “Foi quando minha amiga me perguntou quem fazia o meu cabelo. Dessa pergunta logo veio a oportunidade da minha primeira cliente. E assim foi”, explica.

Ela é extremamente grata a essa sua amiga porque foi ela que lhe abriu o mundo no qual eu sempre quis estar, o de aumentar a sua autoestima, cuidar e ouvir pessoas semelhantes a mim. “E assim sou até hoje”.

Nadja, claro, montou o seu negócio. O Côrte Afro nasceu de forma inusitada. Nadja e duas amigas não tinham nem um lugar apropriado para fazer o seu trabalho e fazer jus ao nome do empreendimento. O nome Côrte Afro originou-se do pensamento de receber e fazer com que todos que sentassem na cadeira do salão, se sentissem rainhas e reis, assim como os seus ancestrais foram. “Não era um Côrte como queríamos ainda, mas já sonhávamos com um salão imenso que poderia atender a grande população preta de Feira de Santana e região”.

No início de sua carreira, sua referência principal era Andréa Black. Ela era a dona do único salão afro de Feira de Santana. “Isso me encantava. Eu ainda admiro muito toda a sua trajetória. Atualmente, para além da Andréa, tenho outras mulheres que acho potência nesse mundo das tranças, como Ixtelis, Maia Boitrago e Rafa Xavier”, completa.

Nadja ainda ministra cursos. Ela disse que tem sido uma experiência desafiadora, mas muito gratificante. “Estou me realizando como profissional, pois acho que conhecimento deve ser repassado. Instruir e capacitar pessoas que querem crescer dentro dessa área e conquistar sua independência financeira é gratificante”. Seus cursos tem duração de seis dias intensivos, com uma carga horária de 38 horas.

No curso, além de aprender a técnica para trançar, Nadja também conta a origem das tranças e importância cultural delas. “Quando abrimos esse leque, abala e fortalece todas as nossas estruturas. Aí temos a certeza de qual é o nosso papel na sociedade afro brasileira”. A trancista destaca que mais do que referências culturais, a trança é algo totalmente artesanal e uma incrível oportunidade de empreender. “Muitas mulheres me procuram a fim de conquistar sua independência financeira no conforto do seu próprio negócio. E eu estou aqui pra fazer isso acontecer”.

Nadja pretende abrir outra filial do seu estúdio. Ela disse que estuda e trabalha todos os dias para ver esse sonho realizado, o de profissionalizar mulheres como ela que sonham em trançar cabelos. Ela quer que, assim como tem salões de alisamentos em todo o canto, também tenha um salão de tranças em cada bairro”.

Para quem está como como trancista, o conselho de Nadja é não desista. “Curta cada processo da sua evolução. Todos eles vão ser necessários para sua consistência. E fica o proverbio africano que amo e diz que “se você acha que é pequeno para fazer diferença, tente dormir num quarto fechado com um mosquito”. Mulher, você é grande pra fazer absolutamente tudo o que quiser”, finalizou.

 

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